Descrição de chapéu Todo mundo lê junto internet

'Serasse' é certo falar 'serasse'?

Folhinha fala sobre a expressão que tomou conta da internet

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São Paulo

Se você tem acesso às redes sociais, provavelmente já deve ter lido —e quem sabe até escrito— a expressão "serasse". Como quando alguém quer imaginar se algo pode ou não acontecer e pergunta "Serasse isso é possível?".

Acontece que, dentro das regras da língua portuguesa, escrever deste modo não está certo —provavelmente a grande maioria das pessoas que usam a "serasse" certamente sabe disso, e escreve como uma brincadeira com o idioma.

Só que, às vezes, as brincadeiras saem de controle. E, no caso da "serasse", tem gente usando-a a sério, quando o correto é dizer "será que" ou "será que se", que são as construções formais que deram origem à expressão que tomou conta da internet.

A Folhinha conversou com o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues, autor de "O Drible" e "Viva a Língua Brasileira" e colunista da Folha, sobre a origem e o uso da "serasse" para saber quando podemos e quando não podemos usá-la.

Você sabe o que é "serasse"?

Claro, é um jeito engraçado de escrever "será se". Uma brincadeira típica da comunicação digital, eu acho. Como escrever "ata" no lugar de "ah, tá" ou "coe" em vez de "qual é".

Você se lembra de quando leu ou ouviu essa expressão as primeiras vezes?

Não lembro quando, acho que uns poucos anos atrás. A minha reação também se perdeu na memória, mas é bem provável que eu tenha dado um sorriso.

Ilustração mostra professora negra, com black power usando vestido amarelo e apontando com giz para lousa onde lê-se em cima "serasse?", riscado ao meio e embaixo "será que?"
Ilustração de Carolina Daffara - Carolina Daffara

Como se chama, na teoria da língua portuguesa, essa construção "será que"?

É uma construção fixa que reforça a interrogação, a dúvida. Ser fixa quer dizer que ela não varia conforme o sujeito da oração seguinte. A gente diz "será que nós vamos", "será que ela vai", "será que eles foram" e assim por diante. É sempre "será que".

E por que você acha que as pessoas resolveram modificá-la?

Difícil saber com certeza por que tanta gente resolveu trocar a conjunção nesse caso, o "que" pelo "se", mas acho que dá pra fazer uma boa aposta. As frases com "será que" exprimem dúvida, incerteza, e a conjunção que a gente está mais acostumado a associar com a ideia de dúvida é "se". Pense numa frase como esta: "Não sei se vou". Daí para inventar uma moda nova, "será se vou", é um pulo. "Será se" é gramaticalmente errado, mas o mais interessante é que a brincadeira parece ter começado justamente a partir da consciência desse erro. Era uma zoação, uma piscada de olho, tipo: olha, eu sei que os professores dizem que isso aqui está errado e por isso mesmo estou usando, ok?

É tudo bem a gente trocar expressões por outras mais legais de escrever e falar?

A língua é lúdica, a gente pode e deve brincar com ela. Não tem contraindicações, mas tem um limite, que é o da comunicação. Vale usar gíria, abreviação, emoji, figurinha, meme, trocadilho, língua do pê, é ridículo tentar moralizar essas coisas. A única exigência é prestar atenção no contexto, na situação. Ter certeza de que quem vai ler ou ouvir aquilo está na mesma sintonia. Se você mandar um "serasse" na redação da escola, o único prejudicado vai ser você mesmo. E nem é um caso de "serasse" vai se prejudicar. Vai com certeza.

Quando você diria que dá pra gente usar "serasse"?

Quando você estiver num ambiente informal, entre amigos ou outras pessoas que compartilhem os mesmos códigos, que entendam o espírito da coisa, não vejo problema nenhum.

Quando você diria que é perigoso usar "serasse" e é melhor evitar?

Sempre que você estiver numa situação em que seu domínio linguístico vai ser julgado pelos outros. Pode ser na escola, no trabalho ou numa situação social menos informal, diante de gente pouco conhecida.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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