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Menino tem superpoder de ver lixeiros, solitários e pessoas em situação de rua em livro

'Os Invisíveis', de Tino Freitas e Odilon Morares, mostra todos aqueles que teimamos em não enxergar

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São Paulo

Invisível. Adjetivo de dois gêneros. Aquele que não se vê, que não se pode ver. De quem não se tem conhecimento. Que se esconde, que não se deixa enxergar.

Isso é o que aparece no dicionário quando a gente procura a palavra "invisível" –que, aliás, está bem visível no livrão, perto de "invisibilizar" e vizinha de "invitação". (Não sabe o que são? Vou deixar você pesquisar depois e descobrir. Mas não vale jogar no Google, tem que abrir o dicionário. Topa?).

Ilustração do livro "Os Invisíveis", de Tino Freitas e Odilon Moraes, publicado pela Companhia das Letrinhas
Ilustração do livro 'Os Invisíveis', de Tino Freitas e Odilon Moraes, publicado pela Companhia das Letrinhas - Divulgação

Só que nem todos os significados moram nos dicionários. Sim, é verdade que eles trazem tim-tim por tim-tim o que todas as palavras querem dizer. Só que algumas definições fogem de lá. E vão se esconder em outro tipo de livro: nos de literatura.

Isso porque muitos escritores e ilustradores bagunçam as palavras, criam frases novas e inventam sentidos que os dicionários nunca imaginaram. É como se fabricassem significados invisíveis.

É mais ou menos o que acontece no livro "Os Invisíveis", escrito por Tino Freitas e ilustrado por Odilon Moraes.

Na história, um menino tem um superpoder e só ele consegue enxergar os invisíveis. Quem são esses seres? Monstros transparentes? Criaturas fantásticas? Magos, bruxas, bichos mitológicos? É aqui que mora uma das espertezas do livro –a gente não sabe, o texto não diz.

Mas as ilustrações mostram quem são esses personagens ocultos que só o garoto pode notar. São lixeiros, pessoas sentadas sozinhas nas praças, pessoas em situação de rua, faxineiros, empregados de todos os tipos.

Nos desenhos, eles surgem com corpos transparentes. A gente só sabe que estão ali por causa das roupas. Só elas podem ser vistas e mostram que essas pessoas estão lá. As páginas, então, surgem recheadas de casacos sem cabeças, blusas sem braços, bonés flutuantes, bermudas sem pernas.

E não é assim na vida real? Quando saímos para caminhar na rua e surge alguém varrendo a calçada ou pedindo uma moeda, será que a gente olha mesmo o rosto desses sujeitos? Ou são só roupas que boiam no ar?

O texto só começa a revelar o que as imagens já mostram quando o menino que é personagem principal começa a sentir que ele próprio se tornou invisível –até que seus superpoderes também vão sumindo.

Publicado pela Companhia das Letrinhas, o livro já tinha ganhado uma edição anos atrás, em 2013, por outra editora, chamada Casa da Palavra. O ilustrador naquela época também era outro, Renato Moriconi, que criou naquela época desenhos cheios de cores e de sombras para essa mesma história.

Tino Freitas, autor de 'Os Invisíveis'
Tino Freitas, autor de 'Os Invisíveis' - Arquivo Pessoal

Agora, neste relançamento, Odilon Moraes inventa uma visual completamente diferente, todo em preto e branco, cheia de buracos, de silêncios e de coisas que não conseguimos ver.

E é aí que surge uma das principais perguntas do livro: nós não conseguimos mesmo enxergar? Ou será que não desejamos ver e fechamos os olhos?

Porque, talvez, invisível não seja aquele que se esconde, que não se deixa enxergar, como diz o dicionário. O autor e o ilustrador mostram e inventam outro significado para a palavra. Invisível também é quem nós não desejamos ver, mesmo que essa pessoa esteja bem debaixo do nosso nariz.

Os Invisíveis

  • Preço R$ 59,90 (56 págs.)
  • Autoria Tino Freitas e Odilon Moraes
  • Editora Companhia das Letrinhas

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Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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