Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Poesia emociona crianças, que também escrevem seus versos

Beatriz, Adélia, Tárique e Martim seguem passos das poetas Luiza Romão, vencedora do Jabuti, e Alice Ruiz

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Beatriz, 11, é fã de Cecília Meireles Pedro Ladeira/Folhapress

São Paulo

Arabela abria a janela, Carolina erguia a cortina, e assim começa o poema favorito da Beatriz, 11, que mora em Brasília e gosta tanto de poesia que guarda sempre à mão um caderno para encher de versos.

"Poesia é aquele texto que nos emociona e diz muito mais do que está escrito", define Bia, que ama Cecília Meireles (a autora do poema ali do começo) e escreveu várias poesias para dar aos convidados do chá de bebê do irmão mais novo, Vinicius —a pandemia veio, o chá nunca aconteceu, e o presente virou lembrancinha da comemoração de um ano do bebê, em 2021.

Beatriz com seu irmão Vinicius, que hoje tem dois anos e ganhou poemas da irmã antes mesmo de nascer - Pedro Ladeira/Folhapress

A diferença entre a poesia e os outros tipos de texto, diz ela, é que na poesia dá para enxergar melhor as palavras. "Com certeza não é só rimar palavras, é expressar seus sentimentos sem nomeá-los. Para fazer um bom poema, acho que é só ser sincero e escrever ou falar o texto com emoção."

Assim como a Beatriz, a escritora Luiza Romão gosta muito de poemas, tanto que reuniu alguns dos seus em um livro chamado "Também Guardamos Pedras Aqui" (editora Nós), que foi eleito na última semana o melhor livro do ano pelo Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do Brasil.

Fora ser muito legal para a Luiza, essa premiação ter acontecido também é muito legal para a poesia em si, já que ela é um estilo de escrita que às vezes pode confundir os leitores —há adultos, por exemplo, que acham poemas uma coisa complicada de se entender, e pensam que é preciso ser muito estudado para gostar deles.

Mulher branca em fundo cinza de blusa preta
A autora Luiza Romão, que ganhou o Prêmio Jabuti - Arquivo pessoal

Mas, afinal, o que é poesia? "Acho que só existem poetas porque nós todos corremos atrás dessa resposta", comenta a poeta Alice Ruiz, que começou a escrever ainda criança e hoje, aos 76 anos, tem dezenas de livros publicados.

"Dá pra gente falar não o que é a poesia, mas pra que ela serve. Talvez assim a gente chegue um pouquinho mais perto do significado. Eu acho que ela serve, primeiro de tudo, pra não deixar a criança que tem dentro de cada um de nós desaparecer quando a gente fica adulto."

Para Alice, a poesia ajuda a não se esquecer de brincar, de ser leve. "E de usufruir das pequenas coisas boas como se elas fossem imensas. Mas ela também serve para fazer a gente pensar, para incomodar, para olhar de um outro jeito a realidade, que às vezes é uma coisa muito chata, que nos limita", diz.

"Poesia é uma pequena história, tipo um curta-metragem, que rima. Nos outros livros não é tudo que rima", responde Adélia, 7 anos. Ela dá dicas para quem quer começar a escrever poemas: "Tem que fazer uma frase que combina, senão não vai fazer sentido. Precisa de rima, precisa combinar as palavras e precisa ser uma coisa emocionante".

Tárique tem 10 anos, mora em Salvador e acha que a poesia é muito mais que fazer rimas. "É trazer emoções pra vida. A poesia nos mostra algo que desperta nossos sentimentos, e outros textos talvez não consigam fazer isso", fala ele, que ano que vem pretende publicar um livro com poemas seus.

Ainda nessa comparação dos versos com a prosa (que é o jeito com que chamamos alguns dos textos que não são poéticos), por exemplo, Martim, 8 anos, acha que quando se escreve poemas dá para ser mais livre.

"Para escrever uma boa poesia só precisa prestar atenção no mundo, que é o mundo que traz boas ideias", resume. Martim conta que gosta dos escritores Pablo Neruda, Manoel de Barros, Arnaldo Antunes e Paulo Leminski.

A porta Alice Ruiz - 31.jan.2015-Greg Salibian/Folhapress

A poeta Alice Ruiz foi casada com Leminski até sua morte, em 1989. Ele escreveu muitos livros e gostava de um estilo de poesia em que Alice também é craque: o hai-kai. Ela explica que poemas como estes têm origem japonesa e uma relação grande com o zen budismo que, segundo ela, é uma filosofia que ensina a estar na natureza sem interferir nela.

"O hai-kai lembra a gente que você e o todo são a mesma coisa. São só três versos. Para os japoneses, o importante é que o primeiro tenha cinco sílabas, o segundo tenha sete, e o terceiro cinco também. Mas o jeitinho brasileiro já mexeu nisso", brinca Alice.

"É sempre sobre a natureza, as plantas, o vento, a chuva, as nuvens, o céu, a lua, ou sobre a natureza humana. Quando você faz hai-kai, está o tempo inteiro prestando atenção no seu entorno. Quem faz hai-kai fica bem."

E será que poesia sempre tem que ter rima? Alice ensina que não. "Já faz um tempo que a poesia se libertou da rima. Às vezes, o poema só tem uma trama interna e as palavras meio que conversam entre si lá dentro", diz.

"As palavras brincam também. E as primas acabam se encontrando dentro do poema, e não necessariamente no fim do verso. Às vezes é no meio dele."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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