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Miniconto
O cavalo de Janaína
Janaína, a rainha do mar,
é deusa que mora nas águas.
Ela também é chamada de
Iemanjá e aparece como
uma linda mulher de longos
cabelos pretos, vestida com
o azul do mar, caminha sobre a água deixando rosas
entre as ondas. Às vezes, é
uma deusa negra com uma
beleza soberana das grandes mães.
É a moça mais formosa do
mundo e vista como sereia.
A tataravó que veio de Angola dizia: "Era metade mulher com os cabelos de ouro
e metade peixe com as escamas de prata".
A tataravó aprendeu a
contar histórias na África e
atravessou o oceano para
chegar até o Brasil. Ela dançava e imitava a sereia com o
espelho para falar de Janaína: "Janaína saiu passeando
pelo mar adentro, onde não
há dia nem noite, vendo as
belezas que estão espalhadas no fundo da água e os
moradores dos seus reinos".
O mar de Janaína é um
mundo encantado. Além
dos peixes que são os seus
vassalos, há uma infinidade
de seres que não vemos e
outros que vemos pequenos, mas que são grandes,
pois têm poderes sobrenaturais criados desde o princípio do mundo.
Os peixes saíram das lamas e das areias, onde estavam escondidos para cortejar a rainha. Quando Janaína chegou bem lá no fundo,
todos os seres do mar se ofereceram para ajudá-la a voltar para casa. A baleia tomou a frente, pois era enorme. O tubarão, bem feroz,
veio logo depois, e, assim,
chegaram o boto, a arraia e
outros valentões. A fila era
imensa, mas Janaína ia recusando a ajuda de um após
o outro. No fim da fila estava
o cavalo-marinho, tão pequeno, tão frágil como um
cristal verde pintalgado. Janaína cantou quando viu o
último, disse a tataravó:
"Cavalinho, meu cavalinho
Senhor das areias do mar
Prepare o seu cangotinho
Para Janaína voltar".
O cavalo-marinho, todo
feliz, parou em frente à rainha para que ela pudesse
montá-lo. Saiu rompendo
as ondas tão ligeiro que os
outros peixes não puderam
alcançar. E foi assim que o
cavalinho do mar se tornou
encantado: a gente o vê pequenininho, mas ele é grande. É o cavalo de uma deusa.
A tataravó quando contou
essa história reviveu os
tempos em que participava
dos folguedos, quando desfilava no Rancho do Cavalo
Marinho. Isso foi há muito
tempo, lá no ano de 1905, no
bairro da Cruz do Cosme, na
Bahia.
Sobre a autora
Elizabeth Rodrigues é antropóloga e escritora, co-autora de "Ogum, Rei de Muitas Faces" (Cia. das Letras).
O miniconto acima é baseado na história coletada por
Souza Carneiro em 1905 e registrada no livro "Os Mitos
Africanos no Brasil" (Companhia Editora Nacional,
1937).
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