UOL
São Paulo, sábado, 6 de agosto de 2005

Quando a doença é a política

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Sabe quando você acorda de mau humor, um difuso mal-estar e não quer nem sair da cama?
Sabe quando sua mãe (ou seu pai) pergunta por que, e você só sabe dizer: "Não sei, tô com o saco cheio"?
Pois é mais ou menos assim que o Brasil parece sentir-se diante da avalanche de denúncias de corrupção que brota do noticiário.
Não é preciso fazer raio-X nem apalpar o corpo para perceber que algo não vai bem, por mais que o próprio organismo não consiga detectar exatamente a causa. Até porque a causa não é visível, material. A causa é a política. Ou, mais precisamente, a indispensável ponte entre você (a sociedade) e o Estado (aquele que existe para atender as necessidades da sociedade).
No Brasil, há muitos e muitos anos, essa tal ponte foi danificada. Em vez de atender as demandas da sociedade, uma parte do mundo político atende só a seus próprios interesses. Eles podem ser eleitorais (como comprar a próxima eleição) ou materiais (como colocar a grana no bolso mesmo).
É mais ou menos como a ponte entre você e o conhecimento, que é feita pelos seus pais e pelos seus professores. Quando eles falham, você não aprende (às vezes, a culpa é sua, mas aí já é outra história). A diferença é que seus pais já estão dados quando você nasce e os professores são escolhidos pelo colégio. Já os políticos são todos eleitos por você (ou seja, pela sociedade).
Logo, o mau funcionamento deles causa mal estar também a você.

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