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SEM CASA
"É ruim, é rato, é frio"
Crianças que vivem nas ruas de São Paulo contam como é não ter casa; pobreza assusta três em cada dez crianças
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA
São quase 8h, e o termômetro indica 10ºC no
centro de São Paulo. No
Glicério, Alecsandro Silva, 8,
explica como é dormir na rua:
"É ruim, é rato, é frio".
Três em cada dez crianças
paulistanas acham que a pobreza é o pior problema das
crianças no mundo, segundo
o Datafolha. Não ter casa, um
dos lados da miséria, preocupa 5%, e passar frio, 1%.
Alecsandro diz que ouve barulhos, que tem medo, que vê
ratos durante a noite. Com o
pai e a mãe, ambos desempregados, dorme no chão, enrolado a uma lona. Nas mãos,
sujas de terra, tem pequenas
feridas. Do último banho ele
nem se lembrava. "Quando eu
tomei banho, mãe?", perguntou. A mãe respondeu que tinha sido três dias antes.
Israel Moreira, 12, e sua irmã, Natália, 5, são filhos de
Romário Moreira, 47, carroceiro que junta ferro-velho.
À noite, o pai encosta a carroça em um muro, joga por cima um pedaço de pano ou de
lona, e ali a família dorme.
Israel tem saudade da escola, da mãe, que morreu, e do
barraco onde morou. "Tiraram a gente de lá", conta. Às
vezes, ajuda o pai. Às vezes,
brinca de futebol. Natália tem
nas mãos uma bola de isopor
e dois garfinhos de plástico.
"É para brincar", explica ela.
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