São Paulo, sábado, 6 de setembro de 2003

SEM CASA

"É ruim, é rato, é frio"

Crianças que vivem nas ruas de São Paulo contam como é não ter casa; pobreza assusta três em cada dez crianças

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA

São quase 8h, e o termômetro indica 10ºC no centro de São Paulo. No Glicério, Alecsandro Silva, 8, explica como é dormir na rua: "É ruim, é rato, é frio".
Três em cada dez crianças paulistanas acham que a pobreza é o pior problema das crianças no mundo, segundo o Datafolha. Não ter casa, um dos lados da miséria, preocupa 5%, e passar frio, 1%.
Alecsandro diz que ouve barulhos, que tem medo, que vê ratos durante a noite. Com o pai e a mãe, ambos desempregados, dorme no chão, enrolado a uma lona. Nas mãos, sujas de terra, tem pequenas feridas. Do último banho ele nem se lembrava. "Quando eu tomei banho, mãe?", perguntou. A mãe respondeu que tinha sido três dias antes.
Israel Moreira, 12, e sua irmã, Natália, 5, são filhos de Romário Moreira, 47, carroceiro que junta ferro-velho.
À noite, o pai encosta a carroça em um muro, joga por cima um pedaço de pano ou de lona, e ali a família dorme.
Israel tem saudade da escola, da mãe, que morreu, e do barraco onde morou. "Tiraram a gente de lá", conta. Às vezes, ajuda o pai. Às vezes, brinca de futebol. Natália tem nas mãos uma bola de isopor e dois garfinhos de plástico. "É para brincar", explica ela.

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