São Paulo, sábado, 6 de setembro de 2003

VIOLÊNCIA

Cidade é filme de bangue-bangue

Quem mora perto das represas de São Paulo conta como convive com a violência, que preocupa 13% das crianças

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA

"Quando ouço tiros, eu me escondo no quarto da minha mãe, tranco a porta e assisto à TV com o volume bem alto", diz Mateus Luan, 12, que mora na Cidade Dutra, distrito no extremo sul de São Paulo.
Na pesquisa do Datafolha, 13% das crianças de São Paulo estão alertas à crescente violência na cidade, que parece um forte apache de muros altos, condomínios fechados, grades e câmeras de vídeo: a preocupação com a falta de segurança é maior entre alunos das escolas particulares (15%) do que entre alunos das escolas públicas (12%). Mas é nos bairros mais afastados, porém, que há mais violência e crianças sem proteção.
Parece filme de bangue-bangue. Na rua, elas têm medo de tiroteio e, em casa, não escapam do barulho das balas a toda hora. "Eu abraço o meu irmão", diz Fabiana da Silva, 8. Nas festas juninas e no Natal, muitos têm medo de sair à rua, "porque os caras dão tiro para o alto e põem o revólver na cabeça das crianças para se mostrar", diz Mateus.
"Por ser área de mananciais, há muitas restrições de construção. As pessoas que estão nesses lugares têm de andar muito para conseguir algum benefício, como escolas ou hospitais", diz Dirce Koga, uma das pesquisadoras do Mapa da Exclusão da PUC.
O problema de exclusão, que causa a violência, segundo Koga, concentra-se em torno de represas como a Guarapiranga e a Billings, no sul da cidade. Só nessa área existem cerca de 300 favelas.

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