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São Paulo, sábado, 8 de outubro de 2005

A SETE CHAVES

Meninos e meninas que começam a sair da infância contam que ainda gostam de brincar -mas em segredo

O mistério dos brinquedos desaparecidos

Bruno Miranda/Folha Imagem
Kevin Liu Ribeiro da Silva, 10, que aproveita que ainda pode pedir presente no Dia da Criança


GABRIELA ROMEU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Responda rápido: boneca ou show da Avril Lavigne? Carrinho ou videogame? Bola ou bate-papo na internet? Até lembra poesia: ou isto ou aquilo? Ou as duas coisas?
"Ou" é uma palavra que quer dizer "alternância, exclusão, dúvida e incerteza". É a palavra que bem define uma fase vivida por meninos e meninas com nove, dez e 11 anos de idade, quando a boneca, a bola e o carrinho já nem sempre estão nas listas de "melhores amigos", mas ainda não foram parar no fundo do armário ou no quartinho da bagunça.
É quando a palavra "criança" já começa a ficar pequena para alguém que esticou, mudou de preferências e começa a virar pré-adolescente, um ensaio para a adolescência. É ser "meio-termo, nem criança nem adolescente", define Sophia Monteiro Ribeiro, 10.
E aí os objetos da infância -os brinquedos- até viram um segredo guardado a sete chaves. Assim acontece com Dora Galvão de França Amaral, 9, dona da boneca Lili, um presente da avó da menina, num tempo em que ela só gostava de bonequinhas.
De vez em quando, lá está ela brincando com a Lili, seu brinquedo de estimação. Mas Dora conta isso meio baixinho: "Acho que não tenho mais idade para brincar de boneca, eu fico com vergonha". Para as amigas, ela explica que Lili é só "enfeite" do quarto. "Eu não sei se elas [as colegas" ainda brincam, vai que elas já pararam e só eu que brinco", raciocina.
Ás vezes criança e às vezes mocinha, Clara Pompeu Motta Lacerda, 10, gosta de "trocar roupinhas da boneca" e curte o som de Avril Lavigne, cantora que arrastou a menina para seu primeiro show de rock. "Não brinco mais que a boneca é minha filhinha, essas coisas, mas gosto de escolher a roupa que ela vai usar", explica.
Gabriella Bergmann Florez de Moraes, 11, conta que as meninas de sua idade têm mesmo vergonha de falar que gostam de boneca porque isso "é infantil". Ela mesma diz que hoje prefere ficar conversando com as amigas. Falando de quê? "Sobre... sobre... sei lá, às vezes, sobre meninos."
Já Thiago Almeida Oliveira, 10, diz que não tem vergonha de inventar corrida com os carrinhos que coleciona. Coloca os carros em fila, faz barulho de motor em movimento: "Vruum, vruum, vruum!", e planeja: "Só vou deixar de brincar de carrinho com 12 anos, aí vou estar mais velho".
A menina Ana Carolina Pontin Lopes, 9, explica um pouco como são essas mudanças: "A gente vai crescendo e deixando os brinquedos de lado, porque cansa".

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