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São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

CRISE

Terrorismo atual assusta por não atuar num só país

Manchas na linha do tempo

VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Você já deve ter ouvido falar muitas vezes que o "mundo não é mais o mesmo". Pois não é mesmo. Depois do atentado ao World Trade Center (as torres gêmeas dos Estados Unidos) em 11 de Setembro de 2001, que completa hoje três anos, reapareceu com força total uma espécie de fantasma do mundo civilizado chamado terrorismo.
O terrorismo de hoje assusta porque não atua mais apenas dentro de um único país (como é o caso de um grupo chamado ETA, que defende a independência de seu território na Espanha), mas no mundo todo. Só para citar alguns exemplos, depois do ataque aos Estados Unidos, terroristas deixaram a sua marca na bomba que explodiu no metrô de Madri (a capital espanhola) e, na semana passada, na escola russa, quando mais de 700 pessoas foram feitas reféns e mais de 300 morreram quando a polícia invadiu o lugar para soltá-las.
Esse novo tipo de terrorismo, chamado de terrorismo global, vem sendo praticado por grupos que defendem de forma radical os mandamentos de sua religião: o islamismo. Por causa disso, foram chamados de extremistas religiosos ou fundamentalistas islâmicos.
A ação desses terroristas acabou criando vários tipos de respostas e comportamentos. Muitos países, por exemplo, passaram a olhar com mais cuidado as possíveis ameaças que vem de fora de seu território e fechar as suas portas para os cidadãos que eles consideram suspeitos.
O modo como os países se relacionam com outros países (o que se chama política externa) também mudou tremendamente e, principalmente, o modo como os países não árabes se relacionam com os países árabes. Depois do aparecimento da figura de Osama Bin Laden, o terrorista que planejou o ataque aos prédios americanos, ficou um pouco mais forte o preconceito que muitas pessoas tinham e normalmente ainda têm contra o que é diferente e pouco entendido. Nesse caso, muitas pessoas passaram a ver o mundo árabe, seus habitantes (os que moram e os que não moram no Oriente Médio) e o islamismo como sinônimo de terrorismo.

Mas, afinal, o que é terrorismo?
"O terrorismo normalmente é praticado por pessoas que querem desesperadamente uma coisa, mas não acreditam que exista outra maneira de conseguir essa coisa que não seja através da violência. Os terroristas acreditam que se as pessoas ficarem apavoradas ("aterrorizadas") elas conseguirão forçar os seus governantes a mudar o seu comportamento ou sua política. Normalmente eles não conseguem os seus objetivos. No caso do 11 de Setembro, eles acabaram fazendo com que os americanos ficassem mais unidos", diz Roy Licklider, professor de ciências políticas da Rutgers - State University de Nova Jersey. Uma ação terrorista pode ser praticada por uma pessoa ou um grupo de pessoas. Só que, ao contrário do que acontece num assassinato, por exemplo, quando um criminoso escolhe quem vai matar, o alvo do terrorista pode ser qualquer pessoa (como no caso das torres gêmeas. As vítimas do atentado eram pessoas que trabalhavam ali), como foi o caso dos russos que faziam uma festa na escola para comemorar o começo das aulas. "Terrorista não é soldado. Ele ataca pessoas comuns, crianças e velhos de surpresa, sem aviso", diz Carlos Eduardo Lins da Silva, jornalista e diretor da consultoria Patri.

Quem são os terroristas?
Existem vários grupos espalhados pelo mundo, como por exemplo, o grupo espanhol ETA, o grupo irlandês IRA e o grupo árabe Al Qaeda (que planejou o ataque aos Estados Unidos). A diferença entre esses grupos é que, enquanto muitos deles atuam em seu próprio país, outros, como é o caso dos extremistas religiosos da Al Qaeda, atuam em qualquer lugar. Os fundamentalistas islâmicos defendem de forma tão violenta e tão radical os ensinamentos da sua religião não toleram nem mesmo outros grupos de sua religião que pensam um pouquinho diferente. Para os fundamentalistas, coisas como a ciência moderna e o mundo moderno são praticamente uma ofensa. É por isso que hoje o fundamentalismo islâmico é tão temido por muitas pessoas. Pensar de forma tão radical e nem mesmo aceitar outras idéias em seu próprio grupo religioso, ser intolerante com o que não é o seu próprio pensamento, é um passo para ações extremas e violentas, como são as ações terroristas.
Depois do atentado, os Estados Unidos classificaram sete países como apoiadores do terrorismo: Iraque, Iran, Líbia, Síria, Sudão, Coréia do Norte e Cuba. Essa classificação é americana, claro, e não mundial.

É possível acabar com o terrorismo?
Essa é grande pergunta desde o 11 de Setembro e a mais difícil de responder. "Ninguém consegue prever quando os terroristas vão atacar. Por causa disso, é difícil se prevenir desses ataques. Mas a maior parte das pessoas não apóia esse tipo de ação violenta, principalmente aquelas que acreditam que é possível ajudar a melhorar o seu país através das eleições livres e que é possível levar uma boa vida nesse tipo de sociedade democrática. O terrorismo fica mais fraco quando não existe muito apoio por parte da população. Alguns grupos terroristas, como é o caso da Al Qaeda (de Osama Bin Laden) têm muito mais apoio em países do Oriente Médio que não são democráticos do que em outros países", diz o professor Roy.
"A guerra não é solução porque terrorista não vai à guerra, não participa de combates. Ele age no segredo, no improviso. Para diminuir o terrorismo é preciso ação de polícia, para descobrir o que os terroristas estão planejando e impedir que eles consigam executar seus planos. E, principalmente, é preciso diminuir as razões que levam muitas pessoas ao terrorismo, como injustiças sociais e econômicas", afirma Carlos Eduardo.
Uma das sugestões que apareceram depois do 11 é que os países encontrem uma forma de impedir que os terroristas usem o dinheiro que eles têm em bancos espalhados pelo mundo. Sem dinheiro, ficaria mais difícil organizar um grande atentado, como foi o americano.

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