São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

O nariz de Isabellinha
Ana Miranda

O poema abaixo narra a história da Proclamação da República, em 1889. Traz vários personagens. Entre eles, Isabella, ou Isabellinha, como a princesa Isabel era chamada pela mãe.

Dom Pedro era imperador
Tão bonito, barba branca
Com rico manto dourado
E a imperatriz, tão feinha!

A princesa era Isabel
E ela seria um dia a rainha
Dançava de festa em festa
Uma boa bailarina

Conde d'Eu, conde de Tu
Conde de Vós, conde d'Eles.
Ó barão de Cotegipe
Pisaram no calo de
Deodoro, o marechal

O calo dói no teu pé
Não, ele dói no teu
Quem pisou no calo dele?
Quem pisou no calo meu?

Vou quebrar a tua espada
Vou quebrar tua coroa
Fora rei, fora rainha
A Monarquia não é boa

Os soldados, generais
Cansados da Monarquia
Gritavam, Fora o rei!
Fora o rei! Fora a rainha!

Os clubes e os jornais
Fora rei! Fora rainha!
E Rui Barbosa, em gravata,
Discursava bem assim:
Pundonoroso varão
Deprecado vilipêndio
República, por que não?
Por conseguinte...

Acabada a escravidão
Os fazendeiros gritavam
Zangados, fora o rei!
Viva a República!
E abaixo a Monarquia!

O rei mandou
Dinheiro para os pobres
Dinheiro para flagelados
Dinheiro para colonos
Dinheiro para fazendeiros
Agora você é barão
Agora você é conde
Agora você é marquês
Daonde? Daonde?
Da cozinha
Obrigado, rei.
Viva o rei! Viva a rainha!

Tirem o boné!
Deixem o boné!
O rei está deitado
O rei está de pé

O rei está bailando
E a princesa a bailar
O Ministério bailando
E os condes a dançar
Guarda Nacional bailando
Só não baila o general:
Baile da Ilha Fiscal

Majestade, meu esposo,
Disse a imperatriz
Havemos de ter República
Por causa daquele nariz
De nossa filha Isabella
Que é tão bela

Fora o rei
Fora o real
Que vá bailar
Em Portugal

Camaradas! Camaradas!
A opressão é um crime!
Disse em brados altos
O capitão-de-artilharia
Fora rei! Fora rainha!
Vamos à Praia Vermelha
Todos ao Arsenal!
E ao quartel-general!
Ao Campo da Aclamação!
Abrir caminho às estrelas
Com a ponta de nossa espada.
Viva a Revolução!
E o povo: Fora rei!
Fora rei, fora rainha!

O rei estava bem calmo:
Isto não há de ser nada
Amanhã é outro dia
Isso é brasileirada!

Majestade, fuja logo
A Revolução chegou
Acabou-se a Monarquia
A República estourou

O palácio está cercado
Guaraná, ó Guaraná
Quem é que é a alma
Deste golpe popular?
Deodoro e Benjamim.
E o povo que tem raiva.
Disse o rei, encalacrado:
Farei novo Ministério
Chamai o Saraiva!

Muito tarde! Muito tarde!
Fora o rei! Fora a rainha!
Atenção, concidadãos
Agora somos República
O vapor já vai partir
E dona Isabel chorava
Os senhores estão doidos?

Não deixai cair ao mar
O meu papai!

Zarpou o paquete
Levando a Monarquia
Não lhe dizia, senhor meu esposo?
Temos República
Por causa do nariz
De nossa Isabellinha,
Disse a rainha

Sobre as autoras
Ana Miranda é escritora, avó do Raphael, 7, e do Gabriel, 3. Escreveu os infantis "Flor do Cerrado: Brasília" e "Lig e o Gato de Rabo Complicado" (Companhia das Letrinhas).
Graça Lima já ilustrou dezenas de livros para crianças e é autora de "Sai da Lama, Jacaré". Mora no Rio de Janeiro, em frente ao palácio onde viveu a princesa Isabel.


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.