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MINICONTO SOFRER CALADO IVANA ARRUDA LEITE Kinzinho adorou o convite de tio Mário para ir ao Morumbi. Corinthians e São Paulo, final de campeonato, imperdível. No estádio, ele estranhou tanta bandeira alvinegra ao redor. -A gente vai sentar aqui?- perguntou pro tio. -Você esqueceu pra que time eu torço? Droga! Kinzinho tinha esquecido que tio Mário era corintiano roxo. Aos 15 minutos do primeiro tempo, quando o Corinthians abriu o placar, ele teve vontade de falar um monte de palavrão, mas agüentou firme. Qualquer manifestação e sua vida correria perigo. Logo depois o São Paulo empatou. Com muito esforço, conseguiu prender o grito na garganta antes que ele escapasse. No segundo tempo, o Corinthians fez mais um e ganhou a partida. Kinzinho parecia um lorde, 90 minutos na maior indiferença. Em compensação, quando chegou em casa, xingou tanto, chorou tanto que a mãe pensou que ele estivesse tendo um ataque. -Tudo isso porque seu time perdeu? -Não, mãe. Tudo isso porque eu tive que sofrer calado. À noite ele sonhou que xingava o juiz e enfrentava sozinho a torcida do Corinthians. Mas aí já era tarde. Sobre o autor Ivana Arruda Leite, 52, é escritora e colunista da Revista da Folha Texto Anterior | Índice |
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