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São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

Um estranho mundo de absurdos

DIRCE WALTRICK DO AMARANTE
ESPECIAL PARA A FOLHA

E se de repente a história que você estiver lendo perder o sentido, e os personagens e a língua (embora seja a sua) se tornarem totalmente estranhos? Você estará diante de uma história absurda! Como "Alice no País das Maravilhas", do escritor inglês Lewis Carroll (1832-1898), um dos pais da literatura chamada nonsense (que significa absurdo), ao lado do também inglês Edward Lear.
No livro de Carroll, Alice percorre um universo desconhecido, onde as regras sociais e morais não são aquelas com as quais ela está acostumada e talvez por isso as pessoas a sua volta pareçam rudes e ilógicas. O que resta à menina é aceitar as novas regras, mesmo que não as entenda.
No Brasil, não estamos muito familiarizados com esse tipo de literatura (ela é bastante comum na Inglaterra, onde nasceu). Mas quando vamos ao cinema, entramos em contato com o absurdo do nonsense e convivemos muito bem com ele.
Alguns filmes, como o clássico "Mary Poppins" ou os mais recentes "Shrek", "Shrek 2", "Procurando Nemo" e "James e o Pêssego Gigante", têm elementos de nonsense.
Em "Mary Poppins", quem não se lembra da palavra "supercalifragilistiexpiralidoso", que tem ao mesmo tempo todos os sentidos do mundo e não tem sentido nenhum?
Já Shrek nem sempre respeita as regras sociais que entendemos como corretas: ele arrota e solta gases, mas em momento nenhum essas atitudes são criticadas. Temos de aceitá-las, pois faz parte do mundo dele.
Em "James e o Pêssego Gigante", temos de aceitar, sem maiores explicações, o aparecimento de um rinoceronte que come os pais de James logo no início da história.
É, porém, o peixinho Dory, a personagem aloprada de "Procurando Nemo", quem dá uma aula de comportamento nonsense. Dory se adapta facilmente a novas situações e regras do jogo. Ela é meio maluquinha, mas talvez seja preciso estar de cabeça virada para aceitar todo o absurdo do nonsense e se divertir com ele.

Dirce Waltrick do Amarante é tradutora e doutoranda em Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina

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