São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

Capa/Música

Sons do sertão

Crianças do Cariri são cheias de rock, bandas cabaçais e batidas de maneiro-pau

Gabriela Romeu/Folha Imagem
Iêdo, Renê, Rodrigo, Momô e Artur, da banda Os Cabinha, em rua da cidade de Nova Olinda

GABRIELA ROMEU
ENVIADA ESPECIAL AO CARIRI (CE)

A vida dos cabinhas do interior do Ceará, lá na região do Cariri, tem uma trilha sonora bem diversificada: a batida do jucá do maneiro-pau, o som do reisado, os repentes das bandas cabaçais e até um rock pesado, tirado de latas.
E esses sons são passados de pais para filhos, de avôs para netos. É assim com o menino Riquelme, 4, que já aprende a bater o jucá nas terreiradas do avô, o mestre Cirilo, lá do Crato.
Mas não são só os adultos que passam suas tradições para as crianças. Na banda Os Cabinha (no singular mesmo), cinco meninos de 10 a 12 anos já se preparam para ensinar sua batida roqueira para os menores.
É um projeto de iniciação musical da Fundação Casa Grande, de Nova Olinda, que é uma ONG (organização não governamental) em que os cabinhas fazem programas de rádio, cuidam de um museu e criam gibis.
Lá os garotos discutem os temas das músicas, inventam as composições, escolhem como "tocar" os instrumentos. "Vamos incentivar os menorzinhos na preparação da nova geração também", diz Francisco Iêdo Lopes, 12, da quarta geração da banda de lata.
Eles têm 12 músicas gravadas. "São composições nossas, nenhuma é copiada. A gente não toca música sem ter autorização", diz José Wilson, o Momô, com toda a pinta de entendido.
Eles encerram a vida na banda de lata nos shows que fazem no Sesc Ipiranga, em São Paulo -leia acima. "Depois dos shows, acaba a lata", brinca Iêdo. "A gente deixa de ser cabinha e vira cabão!", emenda Momô.
Hoje, às 20h, o grupo toca com Marcelo Camelo. Eles estão cheios de prosa por subir no palco com o músico e guitarrista. Mas, na verdade, estão mais interessados em conhecer a namorada do cara, a Mallu Magalhães. Será que ela vai dar uma canja lá?

A jornalista viajou a convite do Sebrae-CE, do Sesc-CE e da Fundação Casa Grande.




DICIONÁRIO DO CARIRI

Cabinha
É um jeito de chamar menino no Cariri. Geralmente, é menino danado.

Cariri
É considerado um oásis no meio do sertão, pois é verde, tem água e mata úmida. A origem do nome são os índios do tronco cariri, que habitaram a região.

Maneiro-pau
Grupo tradicional que canta e dança. O mestre faz os repentes no centro da roda, composta por dez integrantes, que brincam de bater o pau de jucá.

Jucá
Árvore que tem um cerne (parte interna do tronco) bem duro, bom para fazer um cacete (pau ou tacape).

Mestre
É que comanda e ensina os brincantes do reisado, de uma banda cabaçal, do maneiro-pau, por exemplo. É sempre chamado de mestre e muito respeitado pela comunidade.

Terreirada
Festa que acontece geralmente no terreiro (quintal) do anfitrião (aquele que recebe convidados).

Reisado
Brincadeira popular, com dança, música e roupas típicas (bem coloridas), que tem personagens definidos e conta uma história.

Banda cabaçal
É um conjunto instrumental nordestino de percussão e sopro -geralmente, é formada por dois pifes (ou pífanos), um zabumba e uma caixa. Tem esse nome porque as zabumbas eram feitas de cabaças bem grandonas.

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