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São Paulo, sábado, 27 de março de 2004

PRIMEIRA LEITURA

O escritor e ilustrador Nelson Cruz reconta o sertão de Guimarães Rosa e traz de volta figuras que quase não existem mais

No tempo dos Gerais

Reproduções
Ilustrações de Nelson Cruz para “No Longe dos Gerais”, da editora Cosac & Naify, hoje nas livrarias por R$ 35,90


PAULA MEDEIROS
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA

Montado na mula Balalaika, com caderno e caneta pendurados no pescoço, o escritor e diplomata João Guimarães Rosa fez, em 1952, uma viagem pelo sertão de Minas Gerais, acompanhando oito vaqueiros. Eles conduziram gado da Fazenda Sirga, na cidade de Três Marias, para a Fazenda Araçaí, no mesmo Estado.
Durante os 11 dias da viagem, o escritor perguntou sobre tudo a todos: "de cor de pedra à casca de árvore, de nome de pássaros e bichos aos apelidos de gente". Guimarães Rosa anotou tudo o que viu, ouviu e sentiu e, de seus escritos, nasceram dois livros clássicos da literatura nacional: "Corpo de Baile" e "Grande Sertão: Veredas".
Os cadernos de Guimarães Rosa (que podem ser consultados no Instituto de Estudos Brasileiros da USP), 50 anos depois, serviram de inspiração para outro escritor: o mineiro Nelson Cruz. Ele é também ilustrador. Há dois anos quis refazer o trajeto de Rosa e contar a história da viagem pelos olhos de Nilson, um menino de nove anos que estava entre os vaqueiros.
Assim nasceu "No Longe dos Gerais". O livro conta como foi o dia-a-dia dos vaqueiros, que acordavam com os passarinhos e almoçavam, às seis da manhã, uma gororoba feita com arroz, feijão e carne-seca. Em poucos dias, Rosa apelidou a refeição de "entalagato". Alimentados, os homens pegavam a estrada para conduzir a boiada pelo sertão.
Para os vaqueiros, aquela foi uma viagem comum, igual às outras, mas enriquecida pela presença curiosa do escritor, a quem chamavam João Rosa. A rotina deles ganhou o mundo. "E trouxe essa população à superfície da vida", diz Cruz.

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