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São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005

MEMÓRIA

O palhaço que nasceu no susto

O palhaço Arrelia com a Emília, do “Sítio do Picapau Amarelo”, em 1984


HELOÍSA PRIETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Waldemar Seyssel nasceu no estado do Paraná em 1905, numa família de artista circenses. Ele gostava de contar que seu avô, um conde francês, um dia apaixonou-se por uma moça de circo, deixou o castelo e a fortuna para acompanhá-la em sua vida de viajante.
Como era atleta e músico, se tornou um dos mais famosos palhaços da Europa. Depois de alguns anos, a família veio para o Brasil onde surgiu o personagem de Pinga-Pulha, o pai de Waldemar, que também se casou com a filha do dono de um circo.
Mas, ao contrário de seu pai e seu avô, Waldemar não virou palhaço por amor, mas por acaso. Seu sonho era ser advogado. Porém, certo dia, Waldemar foi obrigado a substituir um palhaço que não pôde entrar em cena. Seus irmãos o pintaram, o vestiram, e o empurraram para o meio do picadeiro. Irado, Waldemar caiu no chão, levantou, caiu de novo, pulou de raiva, levantou mancando, perseguiu os irmãos para lhes dar uma surra, e a cada gesto, a platéia ria e aplaudia sem parar. Quando a raiva passou e a alegria de estar em cena tomou conta dele, Waldemar percebeu que a palhaçada estava no sangue e entrou para a trupe da família com o nome de Arrelia.
Arrelia era o apelido que ele tinha quando menino porque gostava de irritar os mesmos irmãos que, quando adulto, o fizeram cair na folia.
Feliz com sua nova carreira, Arrelia fez sucesso no circo de 1922 a 1952 e depois, em 1953, trabalhou no Cirquinho do Arrelia, onde ficou durante muitos anos, um dos primeiros programas infantis da televisão brasileira. Juntamente com seu sobrinho, o famoso palhaço Pimentinha, Arrelia se orgulhava de ter divulgado no Brasil a antiga arte de fazer circo, uma paixão que unia toda sua talentosa família.

Heloisa Prieto é escritora, autora de "Lá Vem História" e "O Livro dos Medos"
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