São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Televisão pode ser parceira ou inimiga

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Já virou clichê dizer que a TV acabou com o reinado do cinema como entretenimento de massas. Mas as relações entre cinema e TV não são assim tão simples, e variam de país para país.
Para surpresa de muitos, nos Estados Unidos e Canadá, assim como no Extremo Oriente, o número de salas de cinema aumentou desde a consolidação da TV, no fim dos anos 40. A Europa e a América Latina, ao contrário, perderam salas no período. No Brasil, a queda foi brutal.
Mas o que varia mais são as relações entre os dois meios nas diferentes regiões do planeta. Nos EUA, passado o primeiro baque causado pelo surgimento da TV, Hollywood se recuperou em parte tornando-se a principal fonte de suprimento de filmes e programas para as emissoras. Estas, por lei, só podem produzir uma parcela dos programas que veiculam.
Na Europa ocidental –sobretudo França, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha–, as TVs comerciais e públicas tornaram-se parceiras do cinema, como produtoras ou co-produtoras de filmes. Como observa Leon Cakoff, organizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, esse tipo de parceria transcende as fronteiras nacionais: "A televisão espanhola co-produziu vários filmes mexicanos e argentinos, a francesa produziu filmes africanos, e assim por diante".
Segundo Cakoff, "o cinema hoje em dia é forte ou onde a TV é parceira, ou onde ela não tem tanta presença na sociedade, como é o caso da China, da India (o maior mercado cinematográfico do mundo, depois dos EUA), do Irã (60 filmes por ano), da ex-URSS". Ele lamenta que no Brasil a TV –"um feudo intocável"– dê as costas ao cinema.
O cineasta Cacá Diegues, que está realizando junto à TV Cultura de São Paulo uma experiência pioneira de casamento televisão-cinema, o filme em episódios "Veja Esta Canção", concorda com Cakoff: "A lei do audiovisual que acabou de ser aprovada só cuida da produção. É preciso complementá-la estabelecendo formas de relação do cinema com a televisão".
Também o produtor Aníbal Massaini Neto critica a inexistência de uma legislação que obrigue a TV a se associar ao cinema: "Já imaginou se a Globo participasse da produção de um filme brasileiro?". Como Diegues, Massaini procura se adaptar aos novos tempos: entre seus projetos está uma refilmagem de "O Cangaceiro" em duas versões –uma para a TV e outra para o cinema. (JGC)

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