São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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EUA confirmam "internacional de sequestro"

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Departamento de Estado norte-americano terminou uma investigação sobre documentos encontrados na Nicarágua este ano e concluiu que havia "um organização muito bem estabelecida sequestrando em toda a América Latina" até o final dos anos 80, segundo a Folha apurou. A informação veio de dentro do Departamento de Estado –o Ministério das Relações Exteriores dos Estados Unidos.
Os documentos de Manágua estavam escondidos dentro de um bunker que explodiu acidentalmente em 23 de maio do ano passado, na capital nicaraguense. Além de um farto arsenal –mísseis terra-ar e metralhadoras AK–, o local continha listas com nomes de empresários latino-americanos e descrição da rotina de alguns deles. Junto a esse material estavam os documentos dos canadenses David Spencer e Christine Lamont, que haviam participado do sequestro de Abílio Diniz em dezembro de 89, em São Paulo.
A investigação do Departamento de Estado norte-americano é sigilosa. O trabalho é dividido em duas partes. A primeira, já concluída, se refere aos documentos encontrados e à atividade da rede internacional de sequestros até o final da década de 80. Agora, os norte-americanos estão procurando pistas sobre o que aconteceu com os integrantes dessa rede. Querem ter certeza que as operações já terminaram.
Segundo a investigação norte-americana, os documentos sobre sequestros foram atualizados até 1989 e início de 1990. Não há uma data precisa. Há, entretanto, documentos da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN), de El Salvador, datados de abril deste ano. A FMLN assumiu publicamente a propriedade das armas, mas não dos documentos sobre sequestros.
Também já é considerado certo pelo Departamento de Estado que os sequestros tinham finalidade política. Isso passa a ser de fundamental importância para os dez condenados pelo sequestro de Abílio Diniz, em 89. A Justiça brasileira considerou o fato apenas um crime comum. Até hoje os sequestradores estão pleiteando a transferência do caso para a Justiça Federal, com o argumento de que sequestraram o empresário para fins políticos. A decisão está para ser tomada em fevereiro ou março.
Sobre a operação da rede de sequestros, o Departamento de Estado não sabe precisar até que ponto havia contato entre os seus membros. Mas tem certeza que as ações eram coordenadas entre si.
Também não foi possível precisar, ainda, até que ponto esse grupo de pessoas –egressas de movimentos de esquerda nas décadas de 70 e 80– continuou a manter algum contato na década atual. Para o Departamento de Estado, embora seja uma avaliação preliminar, o mais provável é que com o esfacelamento do comunismo a rede tenha sido desativada.

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