São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Taxistas 'agenciam' meninas em Recife

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A estrutura de agenciamento das meninas prostitutas a turistas estrangeiros em Recife inclui motoristas de táxi e meninos de rua. Segundo depoimentos à Folha dados por garotas envolvidas no esquema, os motoristas e meninos atuam como intermediários nas negociações com os turistas, na maioria, alemães.
Já no aeroporto, principal porta de entrada dos turistas, em troca de comida ou dinheiro, os meninos de rua fazem os primeiros contatos para os encontros.
Quem não vai ao aeroporto tem em alguns motoristas de táxi a oportunidade de conhecer os turistas. Por meio desses taxistas, que recebem uma comissão que varia de caso a caso, dizem as meninas, elas são apresentadas e até orientadas por eles sobre como se comportar.
Meio de vida
Pesquisa feita pela Casa de Passagem, entidade de apoio a prostitutas, meninas de rua e adolescentes de Recife, revela que 30% das garotas entrevistadas e que disseram trabalhar têm na prostituição seu único meio de vida.
Segundo a presidente da entidade, Ana Vasconcelos, o emprego doméstico foi a segunda atividade mais citada, com 23%. O percentual fica próximo aos 22% que declararam fazer biscates (serviços eventuais) para sobreviver.
A pesquisa envolveu 255 adolescentes com renda familiar de até dois salários mínimos e idades entre 13 e 19 anos. Desse total, 199 foram ouvidas em 17 escolas comunitárias e 56 nas ruas. Entre as garotas entrevistadas, 116 disseram que trabalhavam.
"O resultado revela que a prostituição é a principal alternativa de sobrevivência para essas meninas de baixa renda", disse a presidenta da Casa de Passagem. Segundo ela, 65% das meninas de rua se declararam prostitutas.
Para Ana, a amostragem serve como parâmetro do que ocorre nas camadas sociais menos favorecidas em toda a cidade. "Elas não têm outra opção para viver".
A agressão física e a desinformação também fazem parte do dia-a-dia dessas meninas. Segundo a pesquisa, 13% das entrevistadas declararam ter sofrido algum tipo de abuso sexual na infância.

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