São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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No 'exílio', Mansell vira o melhor do mundo

FLAVIO GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi preciso um "exílio" na América aos 40 anos para que Nigel Mansell fosse reconhecido pelo mundo. O piloto inglês, que no final de 92 anunciou que estava deixando a Fórmula 1, conquistou o planeta com o título de 93 na Indy. Desprezado pela Williams, que o dispensou apesar do título mundial, Mansell foi correr na prima pobre dos EUA. Ganhou o campeonato e todos os prêmios importantes do automobilismo mundial na temporada.
Mansell foi escolhido pelos jornalistas norte-americanos especializados como melhor piloto do país no ano. É uma façanha por dois motivos: primeiro, Nigel é britânico; segundo, nessas eleições geralmente o vencedor sai da categoria mais popular do país, a Nascar –o Stock Car dos EUA.
O que levou a imprensa a escolher o "Red Five" foram suas atuações em circuitos ovais. No início do ano, apostava-se, com grande probabilidade de ganhar algum dinheiro, que Mansell se arrebentaria no primeiro muro que encontrasse pela frente.
Em parte quem acreditou em tal hipótese acertou. Na segunda prova do ano, no oval curto de Phoenix, Nigel se esborrachou num treino e nem pôde correr. Para os veteranos da Indy, nada mais conveniente. Estava provado que a vitória na abertura do campeonato, em Surfer's Paradise, tinha sido um acaso e que na hora do vamos ver, nos ovais, o inglês baixaria a crista.
Não foi o que aconteceu. Depois do acidente Mansell se dedicou com afinco aos treinos em ovais e acabou ganhando quatro provas nesse tipo de circuito. Uma delas em Michigan, 500 milhas, corrida que deixa qualquer garoto com a língua de fora.
Mansell só não ganhou a etapa mais importante do ano, em Indianápolis, por uma certa ingenuidade na última relargada. Chegou em terceiro, e ainda deu um show no fim –esbarrando seu Lola-Ford no muro a mais de 300 km/h e segurando o carro como se estivesse manobrando num estacionamento de shopping center.
As quatro vitórias ovais de Mansell lhe deram o título por antecipação. Ele terminou 12 das 16 corridas (veja quadro ao lado) e completou mais de 90% da distância total percorrida no campeonato. Ser campeão no ano de estréia certamente pesou na sua decisão de não aceitar os convites para voltar à F-1, que vieram da Benetton e da McLaren.
Além do mais, Nigel e sua família encontraram em Clearwater, Flórida, onde vivem, o sol que raramente visita a gelada Ilha de Man –onde a trupe morava na Europa. Sua mulher, Rosanne, teve grande influência na decisão de Nigel, que renovou com a Newman-Haas por mais duas temporadas. Na casa de Mansell, quem manda é ela.
A Europa também se curvou ao estilo agressivo e vistoso do piloto britânico mais popular de todos os tempos. Orfã de Mansell, a Inglaterra não conseguiu substituí-lo no coração dos torcedores com Damon Hill. Tanto que o público em Donington numa prova de Turismo, em novembro, foi maior do que o GP de F-1 Silverstone. Motivo: Mansell estava lá, correndo com um Ford Mondeo. Arrebentou o carro num muro, se machucou, mas matou a saudade de sua torcida.
Duas das mais importantes revistas européias de automobilismo premiaram Mansell à distância. A "Autospolesa lhe deu o título de melhor piloto internacional do ano na 20.ª edição de seu "Autosport Awards". A "Autosprint" italiana, que deu a Alain Prost o "Capacete de Ouro", arranjou um "Capacete especial" para Mansell –algo como aqueles Oscars oferecidos a cineastas pelo conjunto de suas obras.
Os prêmios das duas revistas, mais o recebido nos EUA, não deixam dúvidas. Apesar da menor visibilidade mundial da Indy em relação à F-1, Nigel foi mesmo o piloto que em 93 encheu os olhos. Até Prost conquistar o campeonato, ele conseguiu ser o único na história a deter os títulos da F-1 e da Indy ao mesmo tempo. Fez mais, estreando com pole e vitória na sua nova categoria –algo inédito até então. O presidente da Foca, Bernie Ecclestone, no ano passado, disse que Nigel não faria falta nenhuma à F-1. O bigodudo e desengonçado Mansell respondeu como se deve. A F-1 está até agora procurando alguém que o substitua à altura.

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