São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientistas isolam gene em tempo recorde

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

No artigo anterior prevíamos, baseado no cálculo dos especialistas, que demoraria uns três anos o isolamento do gene especial que em maio de 1933 Bert Vogelstein sugeriu existir numa forma hereditária de câncer do cólon. Mas a revista "Cell" de três de dezembro publicou artigo descrevendo o isolamento do gene, num verdadeiro recorde de velocidade. É que, referida a possibilidade desse gene, estabeleceu-se corrida para sua identificação. Mas o vencedor dessa corrida não foi Vogelstein mas Richard Kolodner e Richard Fishel.
O período de seis meses, em vez de três anos, decorrido entre a idéia do gene e sua localização mostra, conforme salienta Christine Gorman, em "Time", como se acelera a velocidade da revolução genética.
A previsão da existência desse gene todo especial deve-se sem dúvida a Bert Vogelstein, da Universidade Johns Hopkins. O gene situa-se no cromossomo 2. Agora será possível, talvez dentro de um ano, desenvolver meio de detecção precoce do mal, pela revelação do gene. As pessoas que se mostrarem positivas nessa prova deverão submeter-se a frequentes exames do cólon para surpreender o aparecimento de tumores iniciais e tratá-los a tempo. Na opinião de Francis Collins, esse será possivelmente o primeiro teste de DNA aplicado na clínica.
Uma das peculiaridades desse tipo de câncer é ser promovido de maneira indireta, não se expressando seu efeito imediatamente mas pelo acúmulo de sucessivos erros decorrentes de defeitos numa proteína que normalmente corrige os erros do DNA. Quando ocorre a duplicação do DNA podem sobrevir erros que uma proteína normal detecta e repara. Mas se essa proteína tiver também algum defeito, os genes passarão a acumular erros, os quais podem afinal atingir os genes que regulam a divisão celular, impedindo que eles restrinjam a ação dos genes favorecedores da proliferação exagerada, porta aberta para o câncer.
O mais curioso nesta história é o gene não ter sido isolado por aquele que o previu. Vogelstein foi ultrapassado, por pouco, por Kolodner e Fischel, que se inspiram em suas próprias experiências com levedura. Nesta eles observaram instabilidade genética semelhante à registrada em casos de câncer do cólon. O artigo desses pesquisadores foi aceito pela revista "Cell" para ser publicado a três de dezembro. Mas como Vogelstein logo apresentou o seu artigo, programado para 17 de dezembro, a redação decidiu permitir que ele anunciasse imediatamente sua descoberta. Agora os dois grupos vão se empenhar no desenvolvimento de testes de detecção precoce.
No mesmo número em que noticiou a descoberta do gene do câncer do cólon, "Time" também informou sobre um meio prático de introduzir DNA no corpo humano para a geneterapia. Essa inserção costuma ser feita com algum vírus inócuo, o que sempre pode acarretar o perigo de alguma mutação. Gary Nabel experimentou introduzir o DNA por meio de bolinhas gordurosas (lipossomos), técnica já conhecida e usada em outras circunstâncias. Ele inoculou lipossomos com DNA em cinco pacientes. O DNA penetrou nas células cancerosas mas só em um caso houve diminuição do tamanho dos tumores.

Texto Anterior: Para ser homem não basta ter genes, é preciso rapidez
Próximo Texto: Divindade se esconde no "hardware"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.