São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Auto-ajuda é campeã de vendas em 1993

DA REDAÇÃO

A lista de livros mais vendidos do ano de 1993 confirma de forma contundente uma tendência dos últimos anos: a consolidação do mercado dos livros de auto-ajuda. Por que alguém deveria se chocar com estas listas? Em 1851, o filósofo Arthur Schopenhauer já dizia: "Estes livros usurpam o tempo, o dinheiro e a atenção do público a que, por lei, pertencem os bons livros e seus nobres objetivos, enquanto os livros ruins foram escritos com a única finalidade de gerar dinheiro ou propiciar emprego. Não são portanto, apenas inúteis mas positivamente daninhos. Nove décimos de toda nossa literatura atual não tem outra finalidade a não ser o de tirar alguns centavos do bolso do público: com este objetivo conspiram o autor, o editor e o crítico." Mesmo reconhecendo que esse tipo de literatura encontrou, em diferentes épocas, um público ávido e fiel, a verdade que esta lista expõe é desanimadora.
Para os cadernos de cultura, as listas de mais vendidos funcionam quase como um mercado paralelo. Em outras palavras, por mais que se queira conferir um valor, estabelecer um critério, raramente os livros recomendados e resenhados irão atingir a mesma cotação dos "mais vendidos". Apesar de não ocuparem ao longo do ano grandes espaços na imprensa escrita, os livros de auto-ajuda correm por fora e ocupam os primeiros lugares da lista. Esta lógica ilustra o abismo que existe entre os suplementos semanais de cultura e o bombardeio diário da televisão, o lobby dos livreiros e as regras da distribuição.
Isto posto, vamos à lista. O país parece vivamente interessado em receitas de magia, feitiçaria, regimes, sexo e etiqueta. Dos 20 livros, 11 se dedicam a estes temas. Há uma certa monotonia entre os campeões de 1992 e 1993: "As Valkírias", de Paulo Coelho, ficou em primeiro lugar no ano passado e em segundo este ano. "O Sucesso Não Ocorre por Acaso", de Lair Ribeiro, ficou em segundo lugar no ano passado e em primeiro este ano.
Segundo uma ótica nacionalista haveria um consolo: a maioria dos títulos foi escrita por brasileiros, com liderança absoluta de dois nomes: Paulo Coelho (em ficção) e Lair Ribeiro. Os únicos estrangeiras presentes à lista são os manjados best-sellers Sidney Sheldon e Danielle Steel.
Entre as exceções de qualidade, o veterano e Prêmio Nobel Gabriel García Márquez e o pesquisador aventureiro Amyr Klink. A presença de Marcelo Rubens Paiva também fortalece a idéia de que a literatura policial é uma das poucas formas narrativas que permite uma profissionalização.
A verdade é que entre os livros de ficção encontramos pouca literatura e entre os livros de não-ficção nos deparamos com um mundo bastante fictício.

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