São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Países querem vigiar gastos da ONU

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Menos gastos, mais eficiência. Em resumo, esta é a mensagem que os Estados-membros da ONU (Organização das Nações Unidas) estão enviando ao secretário-geral da entidade, o egípcio Boutros Boutros-Ghali, nesta virada de ano. Desgastados com o fracasso das operações de paz na Bósnia e na Somália, cansados de financiar desperdício, os países em posição de liderança na organização decidiram fechar as torneiras econômicas.
Reduzido em dois terços, o orçamento de 17 operações de paz foi aprovado às 3h da última quarta-feira, após discussões acaloradas. Boutros-Ghali pediu US$ 1,5 bilhão; o comitê assessor para questões administrativas e de orçamento recomendou redução para US$ 1 bilhão e a 5.ª Comissão (Administração e Orçamento) da Assembléia Geral da ONU encerrou a discussão em US$ 577 milhões para os próximos seis meses. Em 1993, os gastos com operações de paz excederam os US$ 4 bilhões.
Com as acusações de fraudes, favorecimento em licitações e mau emprego de dinheiro se amontoando, as delegações de diversos países passaram a exigir explicações de custos mais bem justificadas e maior rigor nas prestações de contas. O resultado, no entanto, não é animador. "Parece que, quanto mais nós pressionamos, mais eles resistem. Veja isso: duas páginas e meia para justificar US$ 600 milhões de despesas", diz um diplomata norte-americano.
Inspetor-geral
Os EUA contribuem com 25% do orçamento regular das Nações Unidas e com uma parte ainda maior das verbas empregadas nas operações de paz. Ao lado do Reino Unido, são os que mais insistem em reformas drásticas na administração da ONU, que consideram "surrealista" (leia reportagem nesta página).
Na 48.ª sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, encerrada no último dia 21, os Estados Unidos conseguiram a aprovação, em primeira instância, do cargo de inspetor-geral.
Relatórios
Inspirado em um posto semelhante existente nos principais órgãos da administração norte-americana, o inspetor-geral seria totalmente independente do secretariado e apresentaria seus relatórios diretamente aos países-membros, através da Assembléia Geral, que é uma espécie de Congresso ou Poder Legislativo da ONU.
O novo "xerife" viria completar mais uma situação de superposição de funções da ONU. Além de duas comissões de orçamento, a ONU tem uma junta de auditores e um grupo consultivo composto por 18 peritos em finanças e administração.
"O problema", explica um diplomata com mais de uma década de experiência na ONU, "é que os relatórios feitos até hoje pelos auditores sempre param nas mãos do secretário-geral". Para se ter uma idéia, a Assembléia Geral da ONU não recebeu até hoje sequer um relatório dos auditores sobre as operações de paz levadas a cabo na ex-Iugoslávia.

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