São Paulo, segunda-feira, 3 de janeiro de 1994
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"Bacanas" fazem covers em homenagem ao Kiss

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Você não faz idéia do que era o Kiss. Não era uma banda, era uma mania. Uma combinação de Tartarugas Ninja, Sonic, New Kids On The Block, vaudeville, quadrinhos e rock'n'roll. Tinham gibi próprio, filmes de TV, máquinas de pinball, jatinho, máscaras. Tudo que era produto existia em versão Kiss, com a maquiagem dos quatro.
Para uma legião de adoradores fanática, o Kiss Army, o Kiss foi a grande introdução ao rock'n'roll. Já quem tinha senso de humor achava que o Kiss levava o rock à sua mais completa expressão circense. Mas para muitos outros, era o fim de uma era. Do Kiss em frente, ninguém mais podia levar o rock a sério –era o pastiche definitivo de todos os vícios do rock.
Daí que é especialmente significativo o anúncio de um álbum em homenagem ao Kiss com um time variadíssimo e de primeira linha. O nome (classe A) deve ser "Kiss My Ass". Entre os bacanas fazendo covers tem veteranos do metal (Megadeth, Anthrax, Axl Rose), gente do "rock de Seatlle" (Nirvana, Soundgarden, Alice In Chains), alternativos em ascenção (Nine Inch Nails, Lemonheads, Dinosaur Jr), rappers (House Of Pain, Ice Cube) e até um super-astro country (Garth Brooks, cobrindo a balada prototípica dos 70, "Hard Luck Woman"). E tem mais gente, inclusive Stevie Wonder e Lenny Kravitz juntos, refazendo "Deuce".
Kiss é "classic rock", expressão que significa tudo aquilo de que eu gostei rapidinho, execrei mais rápido ainda e de repente me peguei redescobrindo. É a música que a geração 70 curtiu. A seguinte já pegou o bonde dos 80 andando. Quem tinha 15 anos em 1980 ficou no meio do caminho. Duro nem é redescobrir Led Zeppelin, Sabbath e coisas assim. Duro é se pegar achando muito legal Ted Nugent, Kiss, Genesis, Rush, Bachman-Turner Overdrive, tudo que o punk e a new wave vieram para destruir. E um fator que confunde ainda mais a história é que está cheio de gente de 15 anos –teoricamente, você– descobrindo a música desse período.
Claro que essa nova "tendência" vem no vácuo de um grande esforço promocional. É mais fácil vender velharias novamente do que correr atrás das novidades. Gravadoras, estúdios, designers e mais um monte de gente estão enchendo os bolsos, desempoeirando e reempacotando os sucessos de 15-20 anos atrás.
Mas não se pode resumir essa nostalgia dos 70 a simples marketing. Para quem tem 28 anos, é uma coisa que supera tentativas de explicação. É mais sentimental. É sinal que não somos mais adolescentes.
Fazer o quê? Relaxar. Como diz minha avó, a "vechiaia é bruta". Mas "rock'n'roll all night and party every day" ainda é um bom slogan. Mesmo para quem já está ficando grisalho.

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