São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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Novela quer promover São Paulo como cidade que 'deu certo'

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Guerra Sem Fim" quer reacender a rivalidade entre paulistas e cariocas. Desde novembro, quando estreou, a novela da Manchete procura vender a idéia de que retrata e denuncia as mazelas do Rio. Por mazelas, entenda-se narcotráfico e corrupção. A trama tem como principal cenário o fictício morro da Paciência (na verdade, o morro da Mangueira), onde se digladiam duas gangues rivais: uma representa o Comando Vermelho; a outra, os bandidos de farda azul ou colarinho branco. O texto agressivo, a interpretação hiperrealista dos atores, a câmera veloz, tudo procura sugerir uma cidade que há muito perdeu o título de "maravilhosa".
Pois bem: ainda em janeiro, São Paulo ganhará espaço na novela. Mas não pelo que tem de violento ou decadente. José Louzeiro e Alexandre Lydia, autores da trama, irão mostrar a capital paulista como o contraponto do Rio –"como a metrópole que deu certo."
No 30.º capítulo de "Guerra Sem Fim", a personagem Verinha (Iracema Starling) vai deixar o morro da Paciência. Viajará para São Paulo no rastro do namorado, o traficante Tripé (Raul Gazzola), que precisou fugir às pressas do Rio. A nova cidade acabará regenerando a moça. Em São Paulo, Verinha irá se apaixonar por outro homem, um sujeito honesto e trabalhador. Irá retomar a carreira de professora, descobrirá que tem boa voz para o canto e, principalmente, que pode viver sem apelar à marginalidade.
"São Paulo estimula o trabalho, a introspecção. É um exemplo que o Rio precisa seguir", diz José Louzeiro. Ex-repórter policial, maranhense, o autor de "Guerra Sem Fim" acredita que, na capital paulista, a criminalidade ainda não se institucionalizou. "Há violência, mas em um grau muito menor que o dos morros e delegacias cariocas."
Louzeiro afirma que a novela só mostrará "os cartões postais" de São Paulo, como o parque do Ibirapuera. Favelas e meninos de rua continuarão restritos às cenas do Rio.
Com a "glamourização da Paulicéia", a Manchete pretende mais do que dar "um exemplo" para os cariocas. Deseja engordar a audiência de "Guerra Sem Fim" –hoje, a trama costuma registrar médias de apenas 2 pontos (ou 79,5 mil residências) na Grande São Paulo. É um caminho perigoso. Uma novela que se diz documental não pode ignorar, por exemplo, que 59 pessoas morreram nas ruas ou domicílios paulistanos durante o primeiro fim-de-semana de dezembro. Todas vítimas de violência.

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