São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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Rebeldes mexicanos fogem para as montanhas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Grupos de camponeses armados que tomaram seis cidades do sul do México no dia de Ano Novo deixaram seus redutos e se dirigiram para as montanhas, segundo testemunhas ouvidas pela "Reuter". Os rebeldes, que se autodenominam Exército Zapatista de Libertação Nacional, deixaram as cidades de Altamirano e Ox Chuc, no Estado de Chiapas.
Os bloqueios na estrada entre San Cristóbal e Altamirano foram retirados. Jornalistas que fizeram a viagem de cerca de 50 km ontem não viram sinal dos rebeldes. Combates esporádicos foram registrados na cidade de Ocosingo. Mas, segundo programas de televisão, o Exército tomou o controle da cidade, capturando armas e prendendo rebeldes.
Jornalistas que saíram da cidade disseram ter visto muitos corpos nas ruas. Dados oficiais falam em 86 mortos, mas funcionários do governo já admitem que o número pode ser muito maior. Um funcionário público na cidade de Tuxtla Gutiérrez (capital estadual) disse que até 150 soldados podem ter morrido.
Em um manifesto divulgado no fim-de-semana, logo após a tomada de seis cidades, os rebeldes declararam guerra contra o governo mexicano, a quem acusam de políticas "genocidas", e exigiram terras. A maioria dos rebeldes descende dos maias, civilização que dominou a região e atingiu seu auge entre os anos 300 e 900.
Os rebeldes, estimados entre 600 e 2.000, autodenominam-se Exército Zapatista de Libertação Nacional, em referência a Emiliano Zapata, lider camponês da região no início do século. Sob o comando de Zapata, camponeses do sul do México participaram da Revolução Mexicana (1910-17), com o slogan "Terra e Liberdade".
Um dos líderes rebeldes afirmou que os guerrilheiros se opõem ao Nafta (inciais em inglês de Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), que entrou em vigor no último dia 1.º. Eles temem que o acordo do México com Estados Unidos e Canadá prejudique a economia de Chiapas, uma das regiões mais pobres do México.
Na manhã de segunda-feira, os zapatistas deixaram a cidade de Las Margaritas com destino desconhecido. Há rumores de que eles estariam se dirigindo à Guatemala. O governo mexicano afirma que os guerrilheiros têm apoio de rebeldes guatemaltecos.
Um porta-voz militar na Guatemala admitiu que guerrilheiros da Unidade Nacional Revolucionária Guatemalteca poderiam estar ajudando os zapatistas. A líder indígena guatemalteca e vencedora do Nobel da Paz de 1992, Rigoberta Menchú, pediu ontem ao Exército e aos zapatistas que procurem uma solução pacífica.

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