São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Magalhães faz de tudo para manter sigilo

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A atuação do relator Roberto Magalhães (PFL-PE) na CPI do Orçamento é marcada por uma obsessão: manter em sigilo o seu relatório final. Rodeado por jornalistas e parlamentares cujo maior objetivo é ter acesso à íntegra do texto, ele montou um complexo sistema para conseguir guardar seu segredo.
Dois assessores da Câmara e outros dois funcionários do Senado ajudam Magalhães na elaboração do relatório. Para evitar vazamentos, nenhum deles tem acesso a todo o material. "Cada um fica só com uma parte", diz o relator. Eles trabalham em quatro microcomputadores. Após cada dia de trabalho, as informações são guardadas em disquetes. Todas as informações armazenadas no disco rígido ou na memória do computador são apagadas para que um "espião" não a acesse.
"Sabe quantas cópias eu tenho do relatório?", pergunta Magalhães. "Nenhuma", responde ele mesmo, sorrindo. Para fugir de interferências estranhas ele já mudou três vezes o local onde se reúne para trabalhar com sua equipe de assessoria. Inicialmente, o grupo se reunia em uma sala no Senado. Posteriormente, se transferiu para o Prodasen (Serviço de Processamento de Dados do Senado), que se localiza em um prédio anexo, e agora está em um lugar que o deputado-relator não divulga. "Se descobrirem, mudo de novo."
Magalhães é precavido até com um descuido próprio. "Até hoje não fiz a contabilidade de pessoas que terão penalidades descritas no relatório para não correr o risco de deixar escapar o número sem querer." Segundo ele, os assessores estão colocando no relatório todos os nomes dos citados, mas a conclusão defintiva do relator sobre o destino de cada um só será feita na véspera da votação do texto, prevista para o próximo dia 24 de janeiro.
Apesar de todo o cuidado, o próprio Magalhães afirma que deixa vazar algumas informações, principalmente aquelas referentes a sugestões de modificações na estrutura do Legislativo e Executivo. "Quando você não dá nenhuma informação à imprensa, você vira vítima da especulação", afirma.
O relator começou a conversar ontem com membros da comissão sobre o conteúdo de seu relatório. Até então ele só estava recebendo sugestões dos parlamentares. Mas nestas conversas, Magalhães utiliza a mesma fórmula que vem marcando seu relacionamento com os assessores: cada congressista só fica sabendo de uma parte do relatório.

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