São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PF apura se Odebrecht adulterou documento

DANIELA PINHEIRO; RUDOLFO LAGO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal investiga a possibilidade de a construtora Norberto Odebrecht ter participado da redação de um documento oficial da CPI do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), em 92.
A CPI investigava as obras do Canal da Maternidade, em Rio Branco (AC), tocadas pela própria Odebrecht. Os indícios de que a empreiteira tenha interferido na produção do documento, para torná-lo favorável à empresa, foram encontrados entre os documentos apreendidos pela PF na casa de Ailton Reis, diretor da Odebrecht, a pedido da CPI do Orçamento.
O ofício era assinado pelo então presidente da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), hoje coordenador da Subcomissão de Subvenções Sociais da CPI do Orçamento. No ofício, o senador encaminhava à Procuradoria Geral da República o resultado das investigações sobre o Canal da Maternidade, além de auditorias sobre a obra feitas pelo Tribunal de Contas da União e Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Distrito Federal.
A PF encontrou na casa de Reis uma cópia do ofício. Junto, um bilhete com uma assinatura não identificada indicando que alguém dentro da própria CPI do FGTS poderia ter elaborado o texto conforme orientações da empresa.
O texto encontrado é exatamente igual ao enviado à Procuradoria. Um detalhe no último parágrafo indica que o diretor da empreiteira pode ter decidido a forma final do texto, segundo avaliação da PF.
No texto original, afirmava-se: "Por fim, mesmo sem apontar qualquer indiciamento, esta Comissão deliberou que fossem anexados ao presente ofício cópia dos depoimentos aqui prestados, bem como dos elementos colhidos durante os trabalhos, no que concerne às obras no Estado do Acre, para as providências que Vossa Excelência julgar necessárias".
Na cópia encontrada na casa de Reis, o trecho "mesmo sem apontar qualquer indiciamento" está riscado. Na versão final encaminhada pelo senador Alves Filho esse trecho foi retirado. Na avaliação de membros da CPI do Orçamento, Reis fez a alteração para não chamar a atenção da Procuradoria, que poderia desconfiar da complacência da CPI do FGTS em relação à empresa.
As obras no Acre, feitas com recursos do FGTS, deram origem à denúncia de que o então ministro do Trabalho Antônio Rogério Magri tinha ganho uma propina de US$ 30 mil.
O presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB), anunciou que ainda hoje iniciará uma sindicância interna para descobrir quem era o funcionário que trabalhou na CPI do FGTS que repassou as informações a Reis e alterou o texto do ofício conforme o pedido do diretor da empreiteira.
Outro lado
O senador Garibaldi Alves Filho quer uma apuração rigorosa sobre a capacidade da Odebrecht em alterar textos da CPI do FGTS, que ele presidiu. Apesar de envolvido no caso, ele considera o documento "uma das coisas mais importantes já descobertas pela CPI (do Orçamento)".
Garibaldi disse que havia assessores no Senado e na Câmara que preparavam os textos da CPI, entre eles o ofício enviado à Procuradoria Geral da República.
A assessoria de imprensa da Odebrecht em Brasília disse que a empreiteira não comenta os documentos encontrados na casa de Reis porque estes teriam sido apreendidos ilegalmente.

Texto Anterior: Quércia vive
Próximo Texto: Vazamento provoca ofensas na comissão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.