São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Menores pedem abertura de abrigo também de dia

Meninos da Sé dizem ser espancados à noite

DA REPORTAGEM LOCAL

As crianças de rua que frequentam a praça da Sé (centro de São Paulo) têm pedido aos educadores da Pastoral do Menor que mantenham o abrigo Casa –que fica a 1.000 metros da praça– aberto também durante o dia. Eles se queixam de serem presos pela polícia no final da tarde, espancados durante a noite e soltos pela manhã.
"A Polícia Militar gosta de deixar a cidade sem crianças de rua na época de festas", afirma Maria Cecília Garcez Leme, 30, coordenadora da Pastoral do Menor na praça da Sé. "Chamam essas prisões por uma noite de 'Operação Papai Noel"'.
Segundo o relatório da Comissão Especial de Inquérito da Assembléia Legislativa de São Paulo que apurou a violência contra adolescentes entre junho de 91 e outubro de 93, houve um acréscimo de 104% no número de jovens mortos no Estado entre 1988 e 1990.
O abrigo Casa funciona no espaço do antigo serviço funerário municipal, sob o viaduto Dona Paulina desde julho do ano passado e recebe entre 100 e 120 crianças por noite. Elas podem dormir, tomar banho e se alimentar entre 20h30 e 8h. "Mas não temos estrutura para atender durante o dia", diz Maria Cecília.
A violência policial é relacionada com prostituição por algumas meninas. Para elas, ficar em hotel com um cliente é melhor que dormir na praça. "Ganho CR$ 2.000,00 por noite e pelo menos não levo bicada (chute) dos PMs", conta A., 17.
Segundo os meninos, o maior risco de dormir na praça é ser agredido por guardas da ronda noturna. P.H.S., 15, levou um tiro nas costas ao tentar fugir de policiais há duas semanas. "Eu tava dormindo no banco e eles arrancaram meu cobertor. Quando vi que era policial, saí correndo. O tiro entrou pelas costas, mas senti a bala na barriga", conta ele.
Ontem, A., 11, e L., 12, acusaram um policial da tropa de choque de atirar bombas de gás lacrimogênio contra eles ontem às 15h na praça da Sé. As 18h, eles prestavam depoimento no Comando de Policiamento de Area da Polícia Militar na rua Vergueiro. Outras cinco crianças também iam passar por exames para saber se foram espancadas por guardas.

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