São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994 |
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Delírio tropical de Welles chega ao vídeo
MARCO CHIARETTI
"Tudo É Verdade" tinha de ser uma coleção de histórias fantásticas, porém reais, mostrando a unidade profunda que marcava as Américas, de sons, raças e heroísmo. Nunca foi concluído por seu diretor. Não faz diferença. Os 123 minutos desta versão compõem uma obra-prima, com algumas das cenas mais belas da história do cinema. São três histórias, reunidas com depoimentos de Richard Wilson –o produtor de 1942–, de Peri Ribeiro –filho de Herivelto Martins, que compõe várias das canções do filme–, de Grande Otelo, de uma das personagens centrais, Francisca, e do próprio Welles, que abre o filme contando, para a TV inglesa, porque que nada deu certo. A primeira história, "Meu Amigo Bonito", trata de um garoto mexicano e seu burrinho, abençoados pelo padre de província. Welles já estava dirigindo a história, quando Nelson Rockfeller, que além de banqueiro e um dos sócios da RKO, a produtora de "Cidadão Kane", era uma espécie de conselheiro informal do Departamento de Estado dos EUA para assuntos latino-americanos, mandou-o para cá. Welles e sua história foram engajados, de boa vontade, diga-se, no esforço de guerra. Estávamos em janeiro de 1942 e os EUA acabavam de entrar na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque a Pearl Harbour (realizado no dia 7 de dezembro de 1941). Welles (e sua trupe) partiu para o Brasil. Foi recebido por Deus e todo mundo, e começou a filmar. Filmou e filmou: o Carnaval, em technicolor, maravilhoso em sua espontaneidade (que deveria compor a segunda história). As favelas, também em technicolor, secas e duras como uma cena de Rossellini. E os jangadeiros, quatro heróis que em uma viagem de 61 dias, do Ceará ao Rio sobre uma jangada "de seis paus", foram entregar ao então ditador do Estado Novo, Getúlio Vargas, um pedido de reconhecimento de sua condição. Welles filmou a chegada dos quatro e foi para o Ceará, dirigir o que seria o único episódio mais ou menos "íntegro" do filme atual –uma espécie de "O Homem de Aran", o documentário genial de Flaherty–, tendo como cena o Nordeste do Brasil e as velas triangulares das jangadas em procissão. LEIA MAIS Leia mais sobre "Tudo é Verdade" à pág. 5-3 Texto Anterior: SHOW Próximo Texto: Nata; Orixá; Anágua; Roto rooter ;Noir Índice |
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