São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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De passo em passo, descobre-se o passado

DE PASSO EM PASSO, DESCOBRE-SE O PASSADO

Linha Pinhão/Pegadas da Memória une 51 pontos que alinhavam o desenvolvimento da capital paranaense
Curte-se a velha Curitiba andando e a moderna rodando. Dos percursos sugeridos pela Linha Pinhão, "roteiro cultural e histórico para conhecer Curitiba a pé", que une 51 pontos a partir dos marcos das praças João Cândido, Santos Andrade e Osório, o trecho que tem num extremo o prédio do Museu Paranaense e no outro o da Sociedade Beneficente Protetora dos Operários é o mais cenográfico e heterogêneo.
O Museu Paranaense possui um acervo com milhares de peças ligadas à etnologia e história, mas é o exterior e o interior do edifício, inaugurado no começo do século como sede da prefeitura, que atraem os olhares. Tombado a nível estadual e federal, exibe a fantasia da arquitetura eclética lavrada em ferro, madeira e pedra. O prédio fica na praça Generoso Marques, que abrigou o primeiro mercado público da cidade.
Duas praças próximas também estão ligadas às origens mais remotas de Curitiba. Na praça Tiradentes, onde está o marco zero e a centenária Catedral Metropolitana, edifício gótico com duas torres e uma rosácea central, surgiu a vila, enquanto foi na praça José Borges de Macedo que, há 300 anos, ergueu-se o pelourinho. A catedral é dedicada a Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
Na sequência, na rua José Bonifácio, vem o Museu na Rua, com painéis que evocam a história da cidade pintados ao ar livre por Napoleón Potyguara Lazzarotto, o Poty. Mais um pouco e se chega ao conjunto do largo da Ordem, ou Coronel Enéas, que gira em torno a um bebedouro para os cavalos das carroças que se dirigiam ao mercado do lugar.
Lá estão a Casa Romário Martins, construção do século 18 que guarda a memória curitibana. Coube à casa, por exemplo, publicar dezenas de volumes que discorrem sobre os mais variados aspectos da "civilização" paranaense. Nas exposições que promove, entendem-se as razões pelas quais Curitiba cresce a partir de planos bem elaborados. É uma preocupação que vem de longe.
Ainda no largo, a Casa Vermelha, loja de ferragens até o ano passado; a igreja da Ordem, de 1737, a mais antiga da cidade; e o Museu de Arte Sacra, no anexo lateral da igreja da Ordem, com peças de quatro igrejas –em sua visita, o papa João Paulo 2.º celebrou missa no altar-retábulo em madeira policromada do século 18 proveniente da matriz curitibana, hoje no museu.
Segue-se pela rua Doutor Claudino dos Santos e se depara com um exemplo de ecumenismo. A esquerda, a neogótica igreja Presbiteriana Independente e, à direita, a igreja do Rosário, do século 18, mas reerguida neste século. Já na praça Garibaldi, quase final do roteiro, estão a Fundação Cultural de Curitiba e a Sociedade Giuseppe Garibaldi. O Relógio das Flores fica no centro da praça.
Quem tiver fôlego e der mais alguns passos verá, na praça João Cândido, as ruínas da igreja de São Francisco de Paula. Mais acima, a sede "art nouveau" da União Cívica Feminina –nos idos de 64, a organização empreendeu a malfadada "Marcha com Deus, pela Pátria e pela Família"– e seu contraponto, a Sociedade Beneficente Protetora dos Operários –nos idos de 17, a organização reuniu os líderes dos movimentos grevistas que assolaram a cidade.
A exemplo do país, Curitiba também aprecia os contrastes. (Federico Mengozzi)

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