São Paulo, sexta-feira, 7 de janeiro de 1994
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Tom e Jerry falam e cantam

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para duas gerações de crianças, as palavras "Hanna-Barbera" no final de cada desenho animado na TV ("Tom e Jerry", "Os Flintstones", "Os Jetsons") pareciam o nome de uma mulher. Mas na verdade ali estavam os nomes de William Hanna e Joseph Barbera, dois desenhistas americanos exímios, que se conheceram nos anos 30 e, em 1939, criaram "Tom e Jerry" –o mais eletrizante "cartoon" que já existiu, sem o qual nunca haveria pernalongas e papaléguas.
Hoje estréia "Tom e Jerry - O Filme", 84 minutos da dupla –pela primeira vez falando e, idem, cantando. A criação do filme teve a participação de Barbera, 82, que deu a seguinte entrevista, exclusiva, à Folha.
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Folha - O sr. não acha que, Tom e Jerry falando, a ação não fica prejudicada?
Barbera - Está certo. É que, para fazer um filme de uma hora e meia, precisávamos de diálogo. Normalmente eu não faria isso. Um dos meus ídolos é Charles Chaplin, e nos filmes dele ninguém fala.
Folha - Como Tom e Jerry nasceram, em 1939?
Barbera - Estávamos trabalhando na MGM, em um estúdio de animação, e tentávamos inventar personagens. Me virei para Hanna e disse: "Por que não fazemos um desenho só nosso?". Ele concordou. Na maioria das vezes, as pessoas que querem criar personagens querem criar figuras malucas: uma girafa púrpura, uma zebra xadrez etc. Queríamos a coisa mais simples, então decidimos fazer um gato e um rato. As pessoas acharam que não ia funcionar. Mas, quando você tem um gato e um rato, metade de sua história já está pronta! A diferença que demos foi a narrativa. Não escrevíamos a história, mas a desenhávamos primeiro. Sempre foi assim.
Folha - E por quanto tempo os srs. ficaram só fazendo Tom e Jerry?
Barbera - Por 20 anos. Por volta de 1960, o estúdio quebrou e saímos. Abrimos nossa própria companhia e me perguntei: "O que será de Tom e Jerry?" Decidimos vendê-lo para a televisão.
Folha - Aí os desenhos, que antes eram feitos com 40 mil quadros, passaram a ser feitos com 4.000. Isso não foi uma perda irreparável?
Barbera - Sim, foi uma pena. Mas tivemos de fazer o que se chama "animação limitada" por causa dos custos. Não podíamos fazer com o mesmo apuro. Antes fazíamos um "Tom e Jerry" de cinco minutos que custaria hoje uns US$ 75 mil! A TV não pode pagar isso. Hoje gastamos apenas 3 mil para fazer um. E antes fazíamos seis desenhos de cinco minutos num ano; na TV, passamos a fazer quase duas horas de desenhos por semana!
Folha - Qual o segredo do sucesso duradouro de Tom e Jerry?
Barbera - Eu diria que o n.º 1, sem dúvida, são as histórias. A ação, a personalidade dos dois. Principalmente, as maneiras engenhosas de o gato tenta pegar o rato e as maneiras engenhosas de o rato fugir do gato.
Folha - O que o sr. acha da animação atual, cada vez mais computadorizada?
Barbera - Usamos computadores no filme; eu os considero um desenho de apoio. Eles nunca vão substituir a animação. Quando você tem de mostrar um personagem triste, e uma lágrima escorre dele, e ele funga e se sente mal –isso você não consegue fazer com um computador.
Folha - E o que o sr. acha de desenhos modernos como os Simpsons?
Barbera - Bem, o que acho é que é uma boa idéia ter pessoas diferentes tentando fazer animações diferentes, mas o único problema que vejo nos Simpsons é a longevidade. Você acha que vai estar assistindo a um desenho deles daqui a 50 anos? Eles vão estar datados; sua idéia e seus diálogos vão estar datados. Tom e Jerry são para sempre.

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