São Paulo, sexta-feira, 7 de janeiro de 1994 |
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Tom e Jerry falam e cantam
DANIEL PIZA
Hoje estréia "Tom e Jerry - O Filme", 84 minutos da dupla –pela primeira vez falando e, idem, cantando. A criação do filme teve a participação de Barbera, 82, que deu a seguinte entrevista, exclusiva, à Folha. * Folha - O sr. não acha que, Tom e Jerry falando, a ação não fica prejudicada? Barbera - Está certo. É que, para fazer um filme de uma hora e meia, precisávamos de diálogo. Normalmente eu não faria isso. Um dos meus ídolos é Charles Chaplin, e nos filmes dele ninguém fala. Folha - Como Tom e Jerry nasceram, em 1939? Barbera - Estávamos trabalhando na MGM, em um estúdio de animação, e tentávamos inventar personagens. Me virei para Hanna e disse: "Por que não fazemos um desenho só nosso?". Ele concordou. Na maioria das vezes, as pessoas que querem criar personagens querem criar figuras malucas: uma girafa púrpura, uma zebra xadrez etc. Queríamos a coisa mais simples, então decidimos fazer um gato e um rato. As pessoas acharam que não ia funcionar. Mas, quando você tem um gato e um rato, metade de sua história já está pronta! A diferença que demos foi a narrativa. Não escrevíamos a história, mas a desenhávamos primeiro. Sempre foi assim. Folha - E por quanto tempo os srs. ficaram só fazendo Tom e Jerry? Barbera - Por 20 anos. Por volta de 1960, o estúdio quebrou e saímos. Abrimos nossa própria companhia e me perguntei: "O que será de Tom e Jerry?" Decidimos vendê-lo para a televisão. Folha - Aí os desenhos, que antes eram feitos com 40 mil quadros, passaram a ser feitos com 4.000. Isso não foi uma perda irreparável? Barbera - Sim, foi uma pena. Mas tivemos de fazer o que se chama "animação limitada" por causa dos custos. Não podíamos fazer com o mesmo apuro. Antes fazíamos um "Tom e Jerry" de cinco minutos que custaria hoje uns US$ 75 mil! A TV não pode pagar isso. Hoje gastamos apenas 3 mil para fazer um. E antes fazíamos seis desenhos de cinco minutos num ano; na TV, passamos a fazer quase duas horas de desenhos por semana! Folha - Qual o segredo do sucesso duradouro de Tom e Jerry? Barbera - Eu diria que o n.º 1, sem dúvida, são as histórias. A ação, a personalidade dos dois. Principalmente, as maneiras engenhosas de o gato tenta pegar o rato e as maneiras engenhosas de o rato fugir do gato. Folha - O que o sr. acha da animação atual, cada vez mais computadorizada? Barbera - Usamos computadores no filme; eu os considero um desenho de apoio. Eles nunca vão substituir a animação. Quando você tem de mostrar um personagem triste, e uma lágrima escorre dele, e ele funga e se sente mal –isso você não consegue fazer com um computador. Folha - E o que o sr. acha de desenhos modernos como os Simpsons? Barbera - Bem, o que acho é que é uma boa idéia ter pessoas diferentes tentando fazer animações diferentes, mas o único problema que vejo nos Simpsons é a longevidade. Você acha que vai estar assistindo a um desenho deles daqui a 50 anos? Eles vão estar datados; sua idéia e seus diálogos vão estar datados. Tom e Jerry são para sempre. Texto Anterior: Aquele que colhe quer partilhar Próximo Texto: Faltam ação e humor no filme Índice |
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