São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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São Paulo ameaça montar outro esquadrão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se a saída de Mário Sérgio não foi uma surpresa, a vinda de Afrânio Riul, esta sim, pegou todo mundo de calças curtas. De um lado, revela que o atual Corinthians sabe ser discreto e eficiente nas suas investidas. De outro, frustra um pouco quem esperava um nome mais sintonizado com os novos ventos que sopram no Parque. Iniciante por iniciante, por que não o Vadão, que fez do Mogi um espelho até mesmo para o Corinthians de Nelsinho e um reflexo para o de Mário Sérgio? Mesmo porque esse Vadão, além de desenhar dentro das quatro linhas formas modernas da geometria do futebol, explica-se prodigiosamente com estas letrinhas, como prova a série de artigos publicados no ano passado aqui mesmo neste jornal. Ora, isso é prova rara de articulação superior. Afinal, para ter bom texto é preciso pensar bem (nem sempre, o inverso é obrigatório). E, se existe um jogo pensado, esse é o do futebol.
Em todo caso, como diz o Matinas aqui mesmo, vamos esperar pra ver.
*
O São Paulo, depois do anticlímax da contratação de Júnior Baiano, ameaça uma remissão estonteante: Axel, Marquinhos, Rogério e Euler, com um olho ainda em Rivaldo. Seria o céu para o torcedor tricolor e brasileiro, que manteria este ano a expectativa de um time brasileiro atingir a marca inalcançável do tri mundial.
Axel, Marquinhos, Rogério e Rivaldo (neste caso, só um milagre) dispensam comentários e até mesmo adjetivos, como o Carlos Galhardo que tanto desencanta o Giron. Já imaginaram uma defesa com Zetti, Cafu, Valber, Rogério e Leonardo; um meio-de-campo com Axel, Marquinhos, Palhinha e Juninho, tendo o velho Cerezo no banco, à espreita?
Resta saber se esse menino Euler estará à altura de completar o ataque com Muller. Assim, de vivo olho, não posso garantir, pois nunca vi Euler em ação. Mas sei o que me confidenciaram os jornalistas mineiros, velhos companheiros de cobertura de Copa do Mundo, recentemente, no Equador. Segundo eles, trata-se, simplesmente, de um novo Julinho. As novas gerações são incapazes de avaliar o que isso significa.
Vou tentar traduzir: Julinho foi o maior ponta-direita que este futebol já produziu. Um dos maiores da história do futebol mundial, ameaçado apenas por Stanley Matthews e por Garrincha. Mas, como, perguntará o leitor, ele pode ter sido o maior ponta brasileiro, se rivaliza internacionalmente com Garrincha. É que Julinho só disputou uma Copa, a de 54, quando foi considerado um dos melhores do mundo, ao lado de Puskas e Kocsis, o artilheiro. No ano seguinte, foi para o Fiorentina, onde se transformou em mito ao, literalmente, dar um dos raros títulos ao time de Firenze.
Naquele tempo, não se chamava para a seleção jogadores que atuavam no exterior. Logo, Julinho cedeu seu lugar a Joel, que, por sua vez, abriu espaço para Garrincha, que se consagrou.
Mas, ao regressar, em 59, tomou o lugar de Garrincha e ganhou a maior ovação, depois da maior vaia, do Maracanã, no jogo contra a Inglaterra. Fez um gol e deu outro para Henrique. Nem mesmo Garrincha recebeu do inimigo tamanho reconhecimento (há que se lembrar da força do regionalismo naqueles tempos).
Pois bem, para não esticar o papo: se Euler for 30% de Julinho será um sucesso no São Paulo.

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