São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Escrever é criar harmonia

BOB FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Forma e conteúdo, para Saramago, são indissolúveis. "Para mim são inseparáveis. O conteúdo exprime-se numa certa forma e a mudança da forma geralmente influi no próprio conteúdo. Quando eu pretendo contar uma história, uma ficção qualquer, para produzir no leitor um certo efeito, levá-lo a pensar isto ou aquilo, tenho que fazê-lo na forma que o próprio conteúdo exige", diz o escritor à Folha.
Forma e conteúdo devem ser harmônicos. "Algo já resolvido desde o momento em que a idéia nasce, sem que eu tenha que dizer a certa altura: esta forma não serve a este conteúdo, ou vice-versa", pensa o autor de "Objecto Quase".
Já em relação às personagens, embora saiba desde o início o que delas deseja, Saramago espera que "elas vão se construindo; eu não as obrigo a serem aquilo que elas não podem ser". Como no romance "A Jangada de Pedra". "A jangada toma o seu rumo, não é? Vai evoluindo conforme viaja o novo continente, com personagens vivendo suas vidas, tomando forma definitiva", diz o escritor português.
Para descrever a evolução dos seus livros e personagens, Saramago se vale de uma comparação: "Minha atitude em relação à história é como, digamos, um vôo de Lisboa para São Paulo. Sei que eu vou, sei qual é o avião, a que horas sai, e é só. Como chego, como vai ser, se o tempo vai estar bom ou não, se o avião vai cheio, a que horas vai voltar e como vou voltar, não sei". (Bob Fernandes)

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