São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Trapalhada; Maldição petista

Trapalhada
"O artigo 'O braço no Executivo', de Marcelo Beraba, na Folha de ontem, diz que o governo 'acaba de fazer nova trapalhada' ao nomear para a Comissão Especial de Investigação os juristas Raymundo Faoro e Fábio Comparato sem antes consultá-los. Conforme o próprio artigo revela, os dois nomes e mais o do empresário Emerson Kapaz foram indicados pelo Movimento pela Ética, atendendo solicitação do presidente Itamar Franco feita durante audiência realizada no Rio de Janeiro no mês de dezembro. Ao receber as indicações o presidente Itamar Franco supôs, como é perfeitamente compreensível, que todos já tivessem manifestado sua concordância em participar da comissão. Portanto, se trapalhada houve, certamente ela não foi feita pelo governo."
Francisco Baker, assessor de imprensa da Presidência da República (Brasília, DF)

Maldição petista
"Face aos recentes acontecimentos, relativos ao assassinato do sindicalista Oswaldo Carvalho Cruz Júnior, tenho lido (com desgosto) em alguns jornais que membros do PT me acusam, e esta não é a primeira vez, de ter, por ocasião do sequestro do sr. Abilio Diniz, colocado camisetas nos sequestradores com o emblema do partido, imputando-me ainda a declaração de que o dinheiro do sequestro seria empregado na campanha do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à Presidência. Mister se faz destacar que até hoje não fui chamado às barras dos tribunais para dar explicações a respeito. Nunca fui interpelado judicialmente sobre tais fatos. As insinuações maldosas são feitas sempre por meio da imprensa, que, obviamente resguarda o sigilo da fonte. Em 89, quando ocorreu o sequestro do sr. Abilio Diniz, não trabalhava eu na Delegacia Anti-Sequestro; era na verdade assistente do diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Tal cargo é essencialmente burocrático, não tendo nenhuma função operacional no âmbito do departamento. As investigações sobre o sequestro não tiveram, em nenhum momento, minha participação. No sábado, dia 16 de dezembro de 1989, estava em minha residência, quando, por volta das 6h, fui chamado pelo diretor do departamento, para que me apresentasse com urgência. Todos os delegados que atuavam no caso estavam há dias trabalhando sem interrupção nas investigações e prisões dos sequestradores, e por isso sem condições de prosseguir nos trabalhos, tendo então o diretor pedido a minha ajuda na negociação. Cheguei à praça por volta das 7h do sábado e de lá saí no domingo, libertando o cativo e prendendo seus captores, sem derramar uma única gota de sangue. Encerrado o caso, o ilustre senador Eduardo Suplicy solicitou a Corregedoria da Polícia Judiciária, órgão do Poder Judiciário, que apurasse as alegações que hoje fazem. A sindicância foi arquivada pela Justiça, por total falta de base (não tendo este subscritor sequer sido ouvido). Talvez se tivesse deixado que policiais invadissem o cativeiro e em decorrência dessa ação ocorresse um banho de sangue, o PT ficasse satisfeito. Por ter agido com critério, discernimento e, sobretudo, como profissional de polícia, venho carregando esta cruz desde então. E o que é pior, como um judeu dos guetos, no período nazista, tatuada nas costas a maldição de uma estrela que, como eles, não mereço. Em nenhuma oportunidade declarei que os sequestradores estavam vetindo camisetas do PT e que o dinheiro arrecadado no sequestro seria utilizado na campanha presidencial do Partido dos Trabalhadores e desafio que provem que eu tenha feito tais asserções."
Nelson Silveira Guimarães, diretor da Divisão de Homicídios de São Paulo (São Paulo, SP)

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