São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Deneuve brilha aos 50 em "Indochina'

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Deneuve brilha aos 50 em "Indochina"
O lançamento de três novos títulos reforça a videografia da atriz, uma das mais admiradas das últimas décadas
Beleza pode ser um assunto subjetivo, mas há no cinema dos últimos 30 anos pelo menos uma unanimidade: Catherine Deneuve. O lançamento simultâneo em vídeo de três filmes que ela estrelou em épocas diferentes –"Indochina", "Forte Saganne" e "Um Dia em Duas Vidas" (leia texto abaixo sobre os dois últimos)– ilustra o amadurecimento não apenas dessa sua beleza indiscutível, mas também de seu charme e de seu talento dramático.
O mais importante dos três é, de longe, "Indochina", não só por ser o mais recente e bem-sucedido (ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e fez grande bilheteria pelo mundo afora), mas por ser também o que resistiu melhor à passagem para o vídeo.
"Indochina" faz parte, grosso modo, do filão do cinema francês nostálgico do império colonial. Nele, Catherine Deneuve é uma grande produtora de borracha na Indochina francesa (onde hoje é o Vietnã), no período anterior à independência da região (ocorrida em 1954).
Eliane Devries, o personagem de Deneuve, é uma mulher forte e obstinada que vê sua firmeza ruir quando sua filha adotiva se envolve com um jovem oficial da marinha francesa por quem também ela é apaixonada. A argúcia narrativa de Régis Wargnier (o mesmo de "Eu Sou o Senhor do Castelo") consiste em ter feito do desmoronamento emocional e moral de Eliane quase um espelho do desmoronamento análogo do poder colonial francês na região, sem para isso forçar nenhuma barra nem recorrer a "mensagens" explícitas.
A fórmula de "Indochina" –executada com competência, embora sem muita invenção– é justamente esta: um vigoroso drama central que tem como pano de fundo um país em transformação. Tudo aparece em rápidas e precisas pinceladas: o jovem indochinês que vai estudar em Paris e volta a sua terra cheio de idéias de liberdade, igualdade e fraternidade; a situação miserável dos camponeses vendidos como escravos; a formação dos grupos guerrilheiros nacionalistas; a participação de atores itinerantes na difusão da revolta etc.
Claro que a visão etnocêntrica e paternalista européia está lá, com toda a sua culpa mal resolvida, mas isso não prejudica em nada o interesse e o impacto do filme. Há até uma certa discrição na maneira como se mostra a deslumbrante paisagem da região, com suas florestas tropicais e suas ilhas escarpadas.
A beira dos 50, mas com a beleza e a elegância intactas, Deneuve prova neste filme, com uma atuação impecável, que também o seu talento dramático está acima de qualquer dúvida.

Título: Indochina (Indochine)
Produção: França, 1992
Direção: Régis Wargnier
Elenco: Catherine Deneuve, Linh Dan Pham, Vincent Perez, Jean Yanne
Duração: 154 min.
Distribuição: Paris Vídeo Filmes

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