São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Artigo ensina a soltar pênis

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece piada de mau gosto, mas não deixa de ser um problema de saúde pública. Muitas crianças e adolescentes prendem o pênis no zíper e precisam ir ao pronto-socorro para que o órgão fique livre do doloroso apêndice. Retirar o zíper é uma coisa fácil para o médico que sabe. Aquele que não conhece a técnica pode até causar mais danos ao pênis do garoto.
Um urologista norte-americano escreveu um artigo sério para uma revista médica, "The Journal of Emergency Medicine", sobre a simplicidade da retirada do zíper. Foi o que bastou para ele receber o que poderia ser chamado de o "anti-prêmio Nobel" de medicina, o "Ig Nobel" (trocadilho com a palavra "ignóbil").
"Eu levei na brincadeira", disse por telefone à Folha o médico James Nolan, da Clínica Guthrie, da cidade de Sayre, Pensilvânia. Ele foi à entrega do prêmio no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge.
Na ocasião, Nolan disse que "toda família tinha de ter uma cópia do artigo em seu estojo de primeiro-socorros", lembra Marc Abrahams, editor do "Journal of Irreproducible Results", co-organizador do prêmio. O "Ig Nobel" é dado para pesquisas que "não podem, ou não devem, ser reproduzidas". Por exemplo, o francês Louis Kevran levou o prêmio de física por concluir que o cálcio presente na casca do ovo da galinha surgiu através de um processo de fusão fria.
O trabalho de Nolan, porém, é sério. Ele atendeu um garoto de quatro anos que tinha prendido o zíper de seu pijama no prepúcio (a pele que encobre a glande, ou "cabeça", do pênis). As vítimas desse problema geralmente são crianças, mas há casos de adultos que prenderam o pênis. Frequentemente são pessoas não circuncidadas –o prepúcio é um alvo fácil– e que não usam cueca –o que facilita as coisas para o zíper. Adolescentes apanhados em situações embaraçosas também são vítimas em potencial devido à pressa.
Nolan só atendeu esse caso, pois passou a maior parte de sua carreira como médico na Marinha norte-americana, mas sabe que "as coisas tendem a se repetir". No Instituto da Criança, ligado à Faculdade de Medicina da USP, o problema é mais frequente, embora não aconteça todos os dias, diz seu diretor-executivo, Paulo Roberto Pereira. "É arrepiante, mas acontece. Eu mesmo já tirei alguns", diz o médico.
Não é uma tarefa fácil, apesar de Nolan e dois outros pesquisadores que escreveram antes sobre o tema terem mostrado que a solução não é complexa: basta cortar o fecho do zíper ao meio através da barra que une as duas metades. "Não pode puxar de volta, senão machuca", explica o diretor do Instituto da Criança. (Ricardo Bonalume Neto)

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