São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Empreiteiras reduzem doações a candidatos

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Empreiteiras cortam verbas para eleições
Nova lei de licitações e escândalo do Orçamento tornam incerto o retorno dos doações aos candidatos
O volume de recursos repassados pelas empreiteiras para as campanhas eleitorais vai sofrer uma queda estimada em pelo menos 50% este ano. A previsão, feita por entidades que reúnem construtores de todo o país, tem um argumento: os empreiteiros agora não contam mais com a certeza absoluta de retorno grantido –em obras– para os seus investimentos eleitorais.
Marcos Sant'anna, presidente da maior entidade do setor, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), observa que esta mudança é uma das principais discussões hoje entre os empreiteiros. "A onda de escândalos que abala o país e a nova lei de licitações reduzem as chances de um construtor obter retorno certo para o que ele gastou com um determinado candidato", disse."Isso não significa que esse tipo de coisa acabou, pois ninguém elimina um modelo tão antigo assim do dia pra noite."
Mesmo com a possibilidade de financiar legalmente os candidatos (veja texto nesta página), a incerteza do retorno deve reduzir as cifras históricas que ligavam os caixas das empresas aos comitês eleitorais. Até a campanha de 1992 (para prefeitos) existia em São Paulo uma tabela informal no mercado para disciplinar as cotas de contribuições aos candidatos.
Uma grande empreiteira costumava gastar uma média de US$ 1,5 milhão nas eleições. Considera-se dentro dessa classificação as empresas com patrimônio líquido acima dos US$ 10 milhões.
Entre as construtoras de porte médio (até US$ 10 milhões de patrimônio) as contribuições com as caixinhas de campanhas chegavam a US$ 350 mil. No bloco das pequenas empresas (até US$ 500 de patrimônio líquido) as doações eram na faixa dos US$ 100 mil.
Bancos
A tendência daqui por diante, segundo o empresário Paulo César Farias, um dos maiores especialistas em caixas eleitorais, é que as campanhas se voltem cada vez mais para o setor financeiro, em busca dos grandes bancos. "Quando se fala em caixinhas, as pessoas só imaginam a ação das empreiteiras, mas nas últimas eleições os bancos começaram a ganhar muita importância nesse sentido", disse PC.
O presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo), Eduardo Capobianco, diz que a redução das contribuições já é dada como certa entre os empreiteiros. "As doações, que devem ser transparentes, agora serão mais voltadas para a identificação ideológica do que para a aposta em retorno fácil através de concorrências fraudadas", afirma.
A Apeop (Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas) já definiu o modelo de atuação para as eleições. A entidade, que abriga 500 empreiteiros, vai recolher recursos, após a revisão constitucional, para candidatos que se identifiquem com o pensamento dos construtores.
A direção da Apeop promete divulgar os nomes das empresas que irão contribuir com as campanhas e dos candidatos que serão contemplados com os recursos. O interesse da entidade está mais voltado para a formação de uma bancada afinada com os empreiteiros na Câmara Federal.
Nos últimos anos, o setor da construção tem contado com uma grupo fiel de cerca de 40 deputados no Congresso.

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