São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994 |
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'Guerra sem Fim' traz a ficção para o registro do documentário
DAVID FRANÇA MENDES
E quase é a novela desejável. Não é o neo-realismo na TV, não é Rosselini. Mas pelo menos não é melodrama mexicano, não é realismo fantástico de terceira mão. Um cineasta estrangeiro disse que o Brasil é maravilhoso porque basta pôr a câmera em qualquer esquina e um drama começa. A TV não sabe disso. E vive requentando um arsenal de clichês do tempo de "O Direito de Nascer": mocinho e mocinha se amam mas não podem se unir por que são de classes sociais diferentes ou por que seus pais se odeiam ou por que há uma outra, malvada, que os separa, usando de pérfidos ardis. Querendo apenas fazer o mais comercialmente viável, a Manchete tangenciou a vanguarda. Gravada com uma só câmera, por questão de economia, "Guerra sem fim" virou uma novela em plano-sequência, onde o trabalho do ator é muito mais expressivo (e há bons atores para ver em ação, como José Dumont, Angela Leal e Júlia Lemmertez). Ao invés de quadros compostos e estáticos, uma câmera que tenta se encontrar numa realidade caótica. Foi de olho no Ibope do Aqui Agora e outras baixarias que a Manchete resolveu apostar na temática urbana e marginal. Escreveu certo por linhas tortas. Com todos os seus defeitos –nem todos os atores seguram a barra, alguns diálogos parecem filme americano dublado, as situações capengam– "Guerra sem fim" é a mais viva das novelas no ar. Bernardo Bertolucci disse uma vez que sonhava com uma ficção televisiva cujos personagens reagissem, ficcionalmente, aos fatos do próprio dia. Ficção/documentário ao vivo, para milhões. Bela utopia. Texto Anterior: Desliga a TV e vá catar piolho em grama Próximo Texto: Bola trocada dá em riso certo Índice |
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