São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
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EUA inventam o terror bem-humorado

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A OLB é uma invenção tipicamente americana. Mais que em qualquer outro país do mundo, a política nos EUA surge de grupos ou indivíduos da sociedade civil. A tradição da luta pelos direitos civis –os lobbies pelos direitos das minorias etc– acabou desembocando, nos anos 90, em manifestações mais radicais e por vezes delirantes e equivocadas como as de um certo segmento das feministas e dos militantes menos dotados do politicamente correto.
A Organização para a Libertação da Barbie é tributária desse mundo político alucinado baseado na idéia de que representação e realidade devem ser tratadas da mesma forma, são na prática a mesma coisa e produzem os mesmos efeitos. A vantagem de uma iniciativa como a da OLB é que eles pelo menos têm humor. Muito humor.
Nada mais humorado do que, sob o pretexto de uma causa anti-violência e anti-sexista, fazer uma Barbie gritar: "Ataque! A vingança é minha!", com voz de homem, e um G.I. Joe (símbolo infantil da masculinidade americana) dizer, enquanto empunha uma metralhadora e uma granada: "Vamos planejar o casamento dos nossos sonhos".
Mas a OLB não chega a ser um fenômeno extraordinário ou particularmente notável num mundo onde, pelo desenvolvimento tecnológico, o terrorismo passa a ter um caráter bem mais imaterial e sub-reptício, podendo atingir todo um sistema de computadores com a inoculação de um simples "vírus". "Li sobre a OLB nos jornais. Mas isso não me diz respeito. É uma peripécia diante de coisas muito mais graves", diz Paul Virilio, um dos principais teóricos das políticas contemporâneas numa sociedade hipermediatizada. "Não que não tenha sua importância, mas para mim há muitos assuntos e é preciso saber selecionar." (BeC)

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