São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994
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Senna faz a sua estréia na Williams e já reclama

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL AO ESTORIL

A nova cara da Fórmula 1 é azul e branca com filetes vermelhos e dourados. Vestindo essas cores Ayrton Senna chegou ontem às 10h locais no circuito do Estoril, em Portugal.
Foi meio esquisita a visão de um piloto que passou os últimos seis anos de vermelho, a bordo de um carro que parecia um maço de cigarros, com novo lay out.
O Williams de 94 também é tabagista até exageradamente. O nome Rothmans, cigarro inglês que passou a patrocinar a equipe, aparece 21 vezes no carro, dez no macacão e três no capacete do brasileiro.
Exagerado também é Senna. A Williams descobriu ontem com quem foi se meter. A programação era banal, apenas umas voltinhas para que uma multidão de jornalistas –só a Rothmans pagou a viagem de 412 deles– pudesse ver a máquina e fotografá-la.
Mas Ayrton começou a trabalhar duro um dia antes. Na terça-feira, com o autódromo fechado, deu quatro voltas para a produção de um vídeo e de algumas fotos promocionais. Já saiu do carro reclamando que a posição de dirigir estava uma droga.
Ontem, ao terminar sua primeira bateria de oito voltas, saiu do cockpit, chamou o engenheiro David Brown e ficou dez minutos falando sem parar sobre algumas reações do carro, aceleração, performance do motor e da suspensão passiva que o time vai usar em 94.
A cinco metros de distância seu companheiro Damon Hill, calado, observava o pequeno grupo de mecânicos e técnicos ávidos por saber o que a nova estrela do pedaço achava de seu veloz brinquedinho.
Senna ligou seu novo carro pela primeira vez em público às 11h21, 8h21 de Brasília. No total, foram 16 voltas sem a preocupação de cronometragem. "Acertamos a posição do banco e do volante e isso melhorou um pouco meu ajuste dentro do carro", descreveu o piloto no seu segundo dia de trabalho na Williams. "Dei poucas voltas e não posso fazer nenhuma avaliação técnica ainda, tenho muito que aprender. É como mudar de casa, você tem que se adaptar, fazer novos amigos, conhecer os vizinhos."
O novo carro da Williams, FW16, só anda no final de fevereiro. Senna já havia guiado para Frank antes, em 83, seu primeiro teste num carro de F-1. O reencontro com a Renault também foi marcante. Foi com esse motor, em Portugal, que Ayrton ganhou seu primeiro GP –em 85 pela Lotus.
Se precisar, Senna diz que faz quantos testes forem necessários até a abertura do Mundial, dia 27 de março em Interlagos. "Não tenho ilusões sobre esse campeonato. Vai ser muito mais difícil do que se imagina", acredita.
Pode ser. Na dúvida, bye bye Angra, sol e verão. Ayrton passa os próximos dias sob o gélido inverno europeu, que ontem brindou o Estoril com céu azul e cinco graus ao meio-dia. No sol.

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