São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Copa computadorizada

SÍLVIO LANCELLOTTI

Não haverá lugar para os jornalistas à moda de antigamente na Copa dos EUA/94. Basta ler o caderno de informações sobre o credenciamento no certamente para entender que os organizadores norte-americanos não sabem mesmo o que é o futebol-soccer, muito menos não compreendem que gênero de gente cobre um mundial. Dou um exemplo, simplérrimo. Nos Media Centers do torneio haverá uma infinidade de mesas de trabalho com os devidos terminais de computador. Será limitadíssimo, porém, o número de máquinas de escrever – e na Copa/94 não existirá o serviço de telex. Quem quiser remeter os seus artigos transoceanicamente precisará utilizar os sistemas de fax ou de modem, através de micros portáteis e de linhas telefônicas.
Tudo bem. Embora eu seja, como o Alberto Helena, um dos integrantes do time de "juniores" do chefe Matinas Suzuki, aderi faz um bom tempo à modernidade dos equipamentos de ofício – redijo este texto, por exemplo, num rapidíssimo processador de quase última geração, dentro do meu escritoriozinho nos fundos do quintal de minha casa. Em mais alguns minutos, enviarei o texto até a Folha via fax, numa operação incrivelmente confortável e veloz. Boa parte de todo o meu arquivo internacional, 70 anos de material, preenche as memórias de dois computadores.
Recordo, no entanto, dos problemas todos que sofreram, na Copa da Itália, inúmeros profissionais de países centro-americanos, africanos ou asiáticos, sem o mesmo acesso ao progresso das telecomunicações. Em várias ocasiões, eu mesmo teclei reportagens para indiano, sauditas, nigerianos ou guatemaltecos, que se atrapalhavam diante do processador. E, para esses menos privilegiados, a organização da Copa da Itália ainda forneceu uma certa quantidade de máquinas mecânicas e uma farta linha de terminais de telex, inclusive com datilógrafos multilingues. Como solucionarão os seus problemas, nos EUA, os jornalistas do passado, sem os instrumentos de seu costume?
Uma outra questão gravíssima. Na Itália, predominaram o surrupio das informações e a cozinha dos jornais caseiros. Eu mesmo, bom e tolo companheiro, perdi muito tempo a traduzir dezenas de reportagens, em idioma peninsular, para os colegas preguiçosos. Nos EUA, todavia, nenhum dos grandes periódicos dará à Copa um espaço razoável, que seja, em seu papel impresso. Some-se isso às distâncias continentais entre as cidades-sede. Resumo: quem não for de circo terá de aprender contorcionismo. Na marra.

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