São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Júri debate veredicto no caso da castração

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O júri de sete mulheres e cinco homens que julga Lorena Bobbitt, a mulher que cortou o pênis do marido, começou a deliberar seu veredicto ontem, dez dias depois
Se o júri a considerar culpada, Lorena, 24, pode ter pena de um a vinte anos de prisão e ser deportada para o Equador, seu país natal. John Wayne Bobbitt, 26, o marido, foi absolvido em novembro da acusação de estupro marital.
O julgamento ocorre em Manassas, região metropolitana de Washington. O juiz Herman Whisenant manteve a sessão de ontem apesar da ordem do governador de Virgínia para todos os tribunais fecharem por causa do frio.
Na noite de 23 de junho de 1993, Lorena cortou o pênis do marido com um facão de cozinha, depois de, segundo ela, ter sido estuprada. O pênis, jogado por Lorena da janela de seu carro em um terreno baldio, foi encontrado pela polícia e reimplantado em cirurgia de nove horas e meia.
Os médicos dizem que só no final deste ano será possível determinar se John vai ser capaz de voltar a ter relações sexuais, mas ele afirma já tê-lo feito.
A promotoria, em seu discurso final ao júri, admitiu haver evidência suficiente de que Lorena foi estuprada pelo marido na noite da agressão. Ela também aceitou os
argumentos da defesa de que Lorena foi vítima de frequentes agressões durante os quatro anos e meio de seu casamento. Mesmo assim, pediu a condenação.
"Não vivemos numa sociedade em que a vingança é a regra. Não quero justificar o que John Bobbitt fez. Mas temos um sistema de justiça que protege as pessoas. Não se pode tomar a justiça nas próprias mãos. Lorena Bobbitt tinha muitas opções legais para escolher. Tinha aonde ir, a quem recorrer", disse o promotor Paul Ebert.
A defesa argumentou que a agressão ilegal requer do agressor um objetivo específico e que Lorena Bobbitt tinha a mente em tal estado na noite da agressão que não era capaz de ter qualquer objetivo específico. "De tudo o que eu li e ouvi sobre estupros, a pessoa que é vítima de um não está em condições de fazer julgamentos racionais logo depois", disse o advogado Blair Howard.
O caso Bobbitt mobilizou a opinião pública dos EUA nos últimos sete meses. O radialista conservador Howard Stern fez campanha em favor de John Bobbitt e arrecadou US$ 350 mil para ele pagar suas contas médicas e legais. Grupos feministas fizeram de Lorena um símbolo das mulheres submetidas à violência doméstica. (CELS)

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