São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo russo perde reformistas

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, montou ontem um governo dominado pelos "reformistas moderados". Boris Fiodorov, defensor de reformas radicais, anunciou
que não vai aceitar convite para continuar como ministro das Finanças. A transição ao capitalismo entra numa fase de desaceleração. "O período do romantismo de mercado terminou", comemorou o premiê, Viktor Tchernomirdin.
Em 1993, a luta pelo poder no Kremlin colocava o "moderado" Viktor Tchernomirdin contra o "radical" Iegor Gaidar, então ministro da Economia e arquiteto da "terapia de choque". Baseada na liberação de preços e nas privatizações, essa fórmula também priorizou o combate à inflação, que caiu de 2.600% em 1992 para 950%.
Mas a receita provocou desemprego. Nas eleições parlamentares de dezembro, a oposição conquistou vitória. A posição da Gaidar no governo se enfraqueceu e, no domingo, ele renunciou. Sua saída provocou queda na cotação do rublo e o gabinete anunciado ontem adiciona mais incerteza no nascente mercado financeiro russo, que
procura investidores estrangeiros.
Para garantir empréstimos junto ao Ocidente, o presidente buscava manter "reformistas radicais". Estes, sem condições de determinar a política governamental, preferiram renunciar. Ieltsin espera que seus aliados ocidentais compreendam
as mudanças como uma necessidade para se barrar o avanço da oposição nacionalista-comunista.
Para primeiro vice-premiê, foi nomeado Oleg Soskovets, um aliado de Tchernomirdin. Os dois defendem maior intervenção do Estado na economia, com créditos para as indústrias ameaçadas de falência. Tchernomirdin e Soskovets representam a geração na faixa dos 50 anos, que fizeram carreira nos moldes do regime soviético. Já a equipe de Gaidar era marcada por economistas na casa dos 30 anos e influenciados pelas teorias econômicas ocidentais.
Dois "reformistas moderados" receberam o cargo de vice-premiê: Iuri Iarov e Alexander Zaveriukha. Mas Ieltsin nomeou, como vice-premiê, Anatoli Chubais, um
"radical", integrante do grupo de Gaidar e responsável pelas privatizações. Alexander Chokhin, da ala "moderada", recebeu a pasta da Economia. Apesar do perfil da nova equipe econômica, Tchernomirdin declarou: "O governo vai continuar o caminho de prosseguir e aprofundar as reformas."
Boris Fiodorov, que ainda deve formalizar sua renúncia nos próximos dias, declarou que "políticas moderadas e populistas" vão desaguar em hiperinflação. Tchernomirdin admitiu que, no final deste ano, a taxa inflacionária será "cerca de duas vezes" maior do que os 5% negociados com o FMI.

Texto Anterior: Sírio paga US$ 7 mi para ver irmão; Sobrinho de JFK visita o México; Mandela pede fim do boicote a municípios; Médicos franceses pedem perdão por escândalo
Próximo Texto: Venezuela vive terceiro dia de protestos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.