São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Carne vermelha volta à mesa sem culpas nos anos 90

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Depois de diversas minorias étnicas e sexuais, agora é a vez de os carnívoros se liberarem. Nova York voltou a ceder espaço aos adoradores da carne vermelha, o segmento de "estabelecimentos que servem animais mortos" cresceu numa proporção de 12% em 93, contra apenas 1% de expansão para a média da indústria de restaurantes.
Nenhum lugar é melhor para se comprovar isso do que Manhattan. Restaurantes de carne estão tomando conta da cidade. E as grandes cadeias de 'steakhouses' não precisam mais ficar confinadas ao Texas.
"Nós não somos yuppies, podemos comer o que queremos", diz Christian Vincent, morador do sofisticado bairro de TriBeCa, enquanto ataca seu "steak au poivre" (bife com molho de pimenta) no restaurante Raoul's, no SoHo. Segundo o gerente do Raoul's, cerca de 50% dos pedidos feitos por seus frequentadores são de carne vermelha. Só o "steak au poivre" representa 35% do movimento da casa.
"O que acontece é que as pessoas ficaram mais exigentes. Só comem carne se for mesmo de primeira qualidade", explica o chef de cozinha Karl Otto Schmidt. Pode ser. Mas pode ser também que, numa cidade em que todos têm atitudes para tudo, as pessoas estejam se cansando de obedecer a figurinos. Acontece fenômeno semelhante com o cigarro: após anos de quedas constantes no número de fumantes, a curva se estabiliza.
"Acho que a histeria está passando. Algumas pessoas estão vendo que carne vermelha na medida certa não faz mal. E outras estão deixando de ser hipócritas e assumindo que comem e gostam mesmo de comer carne", diz Roberto Cannini, maitre do restaurante Opus 2, uma espécie de churrascaria aberta há seis meses no miolo de Manhattan, confirmando a expansão do ramo.
Mas os brasileiros que vierem a Nova York pensando em desfrutar dos prazeres da carne devem antes rechear a carteira: uma refeição que inclua um belo filé, um copo de vinho ou uma cerveja e café, não sai por menos de US$ 40, cerca de CR$ 16 mil. Sem direito a rodízio.

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