São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vôlei da Telesp viaja de ônibus comum e treina com bolas ovais

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Capitão da seleção brasileira masculina de vôlei durante nove anos, o atual técnico Antonio Carlos Moreno está desde abril de 93 no Telesp Clube conduzindo uma equipe que pode ser comparada à seleção de Camarões –na Copa do Mundo de 90, o dedicado time africano só caiu diante da Inglaterra nas quartas-de-final.
Sem contar com a infra-estrutura do chamado grupo de elite do vôlei nacional (como o Banespa, que investiu cerca de US$ 1 milhão na temporada 93/94), o Telesp já deu bons sustos em alguns times que disputam a Liga Nacional Masculina de Vôlei, como o próprio Banespa.
"Contamos com a boa vontade dos sócios e com a ação entre amigos para ajudar o time", diz Sérgio Lopes, presidente do Telesp e funcionário da empresa há 30 anos. Lopes não gosta de tocar no assunto, mas sabe-se que o salário dos jogadores tem sofrido constantes atrasos. Em média, um atleta da Telesp recebe US$ 400 por mês (no Banespa, a média está em US$ 1.500), que já chegaram a ser pagos em até duas vezes. "As dificuldades são superadas pelo entusiasmo dos garotos, que revelam possibilidade de evoluir muito", diz Moreno, que ficou na seleção brasileira de 1965 a 1980.
Com um time cuja média de idade é 21 anos e a altura variando em 1,93 m, Moreno tem procurado enfrentar as barreiras com a mesma tranquilidade com que cuida dos seis filhos e da mulher, Selma, na residência do casal em Santo André (20 km ao sul de São Paulo). Nos treinos do time, por exemplo, ele conta com 15 bolas para armar as jogadas da equipe. "Quando chega bola nova, é uma alegria geral", conta o levantador Beto, 26, um dos jogadores mais experientes do grupo.
O jogador tem razão em ficar feliz. Com o uso diário das bolas para treinar –são 30 horas semanais, divididas entre preparação física e parte técnica–, elas vão ficando ovaladas e têm seu peso alterado pelos petardos desferidos pelo grupo de 12 jogadores.
Já o técnico Moreno diz que não precisa ter uma "caminhão de bolas" para treinar. "É um trabalho difícil, mas vamos tocando com garra", afirma Moreno. Com 12 vitórias em 18 jogos disputados, ele acredita que na fase atual da Liga Nacional o time pode cair um pouco de produção. "Mas estou muito contente porque conseguimos atingir o objetivo de não ficarmos na lanterna do torneio", diz Moreno.
Hoje, o time mostra mais uma vez seu esforço. Sem dinheiro para viajar de avião, a equipe pega o Frangosul/Ginástica (derrotado pela Rhodia/Pirelli, em Novo Hamburgo), depois de ter enfrentado 14 horas de estrada em um ônibus semileito. Uma primeira mordomia para quem, na primeira ida para a cidade, a 30 minutos de Porto Alegre, teve que suportar um ônibus comum, com a correia do ar-condicionado quebrada, em uma viagem feita sob um calor insuportável.

Texto Anterior: Importados têm mordomias
Próximo Texto: Jogadores decidem viver em república
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.