São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 1994 |
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'Hooligans' são a face da cidade
ALBERTO HELENA JR.
Basta congelar a imagem da TV num close dos vândalos e veremos escrito no rosto de cada um uma longa história de violência e ignorância, desatino e má nutrição, como se tão cedo esses meninos –sim, porque a imensa maioria tem 14 a 18 anos– tivessem chegado a um beco sem saída. A luz, no fim do beco, a fresta tem o formato de uma tela de TV, onde signos antagônicos se confundem, numa linguagem de samba do crioulo doido: "Isso é para eles aprenderem a não desrespeitar o povo!" –brada na telinha um rapazinho raquítico, moreno e desdentado, que acabara de atirar um tijolo nas vidraças do Pacaembu, mal escondendo o sorriso por trás do semblante canastronicamente fechado. Ao fundo, como um coro greco-itaquerense, o bando urra cânticos em louvor ao São Paulo bi-campeão mundial. Isso porque os organizadores atrasaram em duas horas a distribuição dos ingressos gratuitos. Tudo fundido numa massa informe de dados desconexos: ali estava a luta pelas Diretas-Já e o Comando Vermelho, a conquista de Tóquio e os "hooligans", os tênis imitando importados e os trombadinhas, a alegria e a raiva. Enfim, a impotência e a convicção de que não há saída. No fundo, um doloroso e confuso grito de socorro. Na cara, a verdadeira face da cidade. Texto Anterior: Violência júnior mostra a cara na Copa SP Próximo Texto: Torcida substitui funk em SP Índice |
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