São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 1994
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Viva a doce Denilma

Josias de Souza
BRASÍLIA – Se me perguntassem qual o maior patrimônio do homem, diria sem titubeio: é o pênis. Sim, o fálus. Faça-se a mesma pergunta a qualquer outro homem sincero, seja brasileiro, americano ou chinês, e a resposta será tão imutável quanto a inapetência de Itamar para o exercício da Presidência.
Tome-se um grupo de endinheirados. Selecione-se de todos o mais rico, aquele que acende charuto com nota de US$ 1.000. Pois lhes digo: se não estiver de bem com o próprio pênis, sentir-se-á a mais miserável, a mais insignificante das criaturas.
Note-se, a propósito, que a veneração peniana é encontrada também no mundo das saias. Que o diga Freud, com sua tese sobre a "fase fálica". Ao notarem-se "castradas", as meninas invejam o pênis alheio.
Pois bem. Um tribunal de Virginia, nos Estados Unidos, reduziu este tesouro a nada. Ao absolver Lorena Bobbitt –a mulher que, com uma faca de cozinha (irrrrc!), separou o marido de seu pênis–, o júri criou uma perigosa, muito perigosa, perigosíssima jurisprudência. Criou-se uma odiosa alternativa ao homicídio, que normalmente conduz ao cárcere.
Diz-se que John Bobbitt, o desafortunado, maltratava a mulher. Teria perdido a riqueza pessoal justo depois de tê-la tentado estuprar. Não se pretende aqui discutir se a mulher tem, sob tais circunstâncias, motivos para podar um pênis como se fatiasse um naco de picanha. Não, não desceremos a esse campo, que exigiria muito papel e tinta. O que se questiona é a ausência de punição. Como se um pênis ceifado não merecesse reparação. Está bem que o dito foi reimplantado. Mas consta que jamais foi o mesmo.
Aceitou-se a tese da "insanidade temporária" de Lorena. Uma rematada estultice. Imagine-se o oposto: um homem que, movido por justa ira, agredisse a própria mulher, mutilando-lhe, por exemplo, um seio. Louco ou não, seria punido. Ah, não tenham dúvidas de que seria. Com um lote de feministas a babar as escadarias do tribunal.
A decisão dos jurados americanos faz da nossa Denilma um doce de criatura. Considerando-se seus métodos humanitários, a dama das toalhas merece todas as homenagens. Ascendeu à categoria de Cinderela.

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