São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 1994
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Lula tenta retomar comando do partido

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 28/01/94
Por erro da Redação, o deputado Eduardo Jorge (PT-SP) foi associado à tendência "Força Socialista", no quadro "As correntes do PT". Jorge integra a corrente "Democracia Radical", como informa o mesmo quadro.
Luiz Inácio Lula da Silva acha que é hora de passar para a sociedade que um eventual governo seu não vai ser dominado pelos setores radicais do petismo. "O ano passado foi para todo mundo falar. Agora é hora de pôr ordem na casa", vem repetindo a amigos desde que resolveu tentar inverter o curso político interno que sua campanha estava tomando.
Ao falar de 93, Lula referia-se à ascensão dos grupos mais radicais do petismo ao comando da máquina partidária. A queda do grupo mais ligado a ele correu no 8.º Encontro Nacional do PT, em junho, em Brasília. Como estava fazendo nos últimos anos, naquela ocasião Lula ausentou-se da discussão depois de uma tímida e frustrada tentativa de manter a hegemonia de sua ala, a antiga tendência Articulação.
Mas a decisão de abrir para PSDB, PDT e até PMDB a cabeça de chapa em alguns Estados –imposta por Lula na reunião do Diretório Nacional no último fim-de-semana– não foi assimilada facilmente. Dirigentes de grupos que hoje têm a maioria na cúpula dizem reservadamente que cederam temporariamente a Lula e que mesmo a "flexibilização" da política de alianças dependerá de análise rigorosa de cada caso.
O eixo do poder no PT está hoje na junção do grupo "Articulação de Esquerda", liderado pelo deputado estadual paulista Rui Falcão, com correntes de esquerda como o trotskista Democracia Socialista. Lula tem tentado costurar a aliança das alas que formavam a sua corrente Articulação para chegar ao decisivo 9.º Encontro Nacional, no final de abril, com uma imagem de partido mais unido e menos radical.
Dúvidas
Em todas as reuniões internas recentes, Lula tem dito que quer "um encontro unitário". Nas muitas discussões que está mantendo com empresários o líder petista tem ouvido até tímidos elogios a algumas de suas propostas. A ressalva, no entanto, é comum: os interlocutores perguntam se as posições do candidato são as mesmas do partido. Lula não tem uma resposta clara.
O caminho será complicado para Lula. No jargão da ortodoxia petista, a frase mais comum nas últimas semanas é que o programa de governo não pode ser "rebaixado por conveniência eleitoral". A dúvida sobre a adoção ou não da moratória como ponto do programa é exemplar. As alas mais à esquerda no espectro petista não pretendem abrir mão do "princípio" e só a intervenção de Lula pode levar a definição para um caminho mais de negociação.
O líder petista é minoria no Diretório Nacional do partido, mas o grupo mais próximo de Lula acredita que a partir do último fim-de-semana a situação começou a mudar.
Imagem radical
Nos últimos meses, Lula constatou que a imagem de um partido dominado por radicais pode ser fatal para sua candidatura presidencial. Daí a ofensiva que desencadeou na reunião do diretório, quando conseguiu uma unanimidade –mesmo no estilo de goela abaixo– para modificar a leitura da resolução que limitava o aval do PT a candidatos a governos estaduais que representassem partidos coligados à candidatura presidencial de Lula.
No discurso em que criticou o sectarismo, Lula foi claro ao dizer que era difícil ganhar sozinho, e mais ainda, governar isolado. O impacto foi grande e ninguém ousou colidir com a ampliação das alianças. O argumento da necessidade eleitoral prevaleceu e o diretório, hoje formado em sua maioria pelas alas à esquerda do petismo, rendeu-se ao pragmatismo.
Poucas horas depois, no entanto, a cúpula do PT mandou um recado ao seu virtual candidato à Presidência, ao proibir a bancada federal de qualquer tipo de participação no Congresso revisor. Lula criticou a decisão, mas curvou-se à "decisão da maioria".
As duas situações mostram o dilema atual do candidato petista. A máquina, hoje dominada por setores sem inserção na sociedade, tende a aceitar imposições eleitoreiras de quem afinal oferece a possibilidade de o partido chegar ao poder, mas resiste a mudanças programáticas.

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