São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 1994
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Gal canta 'Sampa' com voz grave

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Som Brasil Especial - 440.º Aniversário de São Paulo
Atrações: Gal Costa e convidados (Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Jorge Ben Jor, Olodum, Demônios da Garoa e Rita Lee)
Direção: Jodele Larcher
Quando: hoje às 21h30
Onde: a Rede Globo transmite ao vivo, do vale do Anhangabaú (região central de São Paulo)
Quanto: grátis

A cantora baiana Gal Costa, 48, é a estrela do 440.º aniversário da cidade de São Paulo. Ela comanda hoje o programa "Som Brasil Especial", com tranmissão ao vivo da Rede Globo, às 21h, do vale do Anhangabaú. A emissora banca o espetáculo, que tem uma hora de duração e esquema de superprodução, com direito a dez câmeras e holofotes.
O público esperado é de 200 mil pessoas. Entre outras músicas, Gal canta pela primeira vez "Sampa", em homenagem à cidade onde morou entre 1966 e 1968. Promete também interpretar "Baby", seu primeiro sucesso, de 1968.
A cantora tem três compromissos para os próximos meses: desfilar na Mangueira em 13 de fevereiro, estrear show no Imperator, no Rio, em 27 de fevereiro, com direção de Gerald Thomas, e participar do show dos Doces Bárbaros em Londres, no dia 1.º de junho.
Em entrevista à Folha, por telefone, do Rio, onde ensaiou seis horas por dia durante duas semanas, ela conta que sua voz está ficando mais grave e adianta detalhes de sua agenda.
*
Folha - O que significa para você cantar para São Paulo?
Gal - Eu adoro São Paulo e tem um lado da cidade com o qual eu me identifico muito: o da seriedade. As pessoas em São Paulo são sérias em tudo, no trabalho, nas amizades. Os espetáculos têm uma conotação de seriedade, diferente dos outros lugares em que a gente canta. E eu vou cantar "Baby", que gravei e começou a ser executada aí. Isso vai me dar muita emoção.
Folha - Você se lembra onde a música foi gravada?
Gal - No estúdio Eldorado, se não me engano. A gente vai fazer a música com o arranjo original do Rogério Duprat. Ela me faz lembrar os tempos em que morei na cidade.
Folha - Como você vê hoje a volta da moda da MPB?
Gal - É muito bom. Fui ao show do Chico e fiquei impressionada com o número de adolescentes. Houve um bloqueio que se deu por causa da relação entre gravadoras e rádios. Isso teria que terminar porque a força desses compositores –Chico, Milton, Gil etc.–, a minha e a de Bethânia é muito maior do que qualquer manipulação. É legal que os jovens conheçam a história da MPB.
Folha - Por falar nisso, como você se sente virando enredo de escola de samba?
Gal - Fico feliz porque é a Mangueira, a minha escola. Já desfilei em 1982 na Imperatriz e gostei. Agora é diferente porque a Mangueira vai contar a história da gente e estamos os quatro juntos –eu, Gil, Caetano e Bethânia– e temos uma irmandade que está acima de nós mesmos. Ficamos muito emocionados no show que fizemos na Mangueira.
Folha - Vocês vão se reeencontrar no Royal Albert Hall em Londres. Como será?
Gal - Será uma coisa maior do que o show da Mangueira. Vamos ensaiar e será diferente.
Folha - Como será a combinação Gal-Gerald Thomas?
Gal - Será um casamento bom. Tenho conversado muito com ele. Vai ser a primeira vez que vou cantar "Gimme Shelter", dos Rolling Stones. O que eu busco agora é uma show centrado na minha voz, a grande arma que eu tenho. O que vier de expressão será a partir da alma do canto.
Folha - O que você pensa de sua voz?
Gal - A voz não é só ela. Existe uma inteligência no cantar. Há o ritmo, a voz que desliza com a harmonia. E a coisa principal é a expressão, como você manifesta a palavra cantada. O cantor tem que ter a consciência disso. Você vive palavras no cantar.
Folha - Qual o seu registro?
Gal - Sou soprano, mas tenho usado muito os graves. Estou usando timbres graves, como em "Bumbo da Mangueira". No disco de Caymmmi (a sair pela Sony) eu gravei "Dora" num registro bem grave. O grave vem com a maturidade vocal e a idade. Estou adorando cantar assim. Em "Baby", baixei um tom e meio em relação ao original.

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