São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Bisol, finalmente

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

José Paulo Bisol, um dos protagonistas da CPI, finalmente fez seu balanço. Ao vivo, no Opinião Nacional e depois no TJ, ele foi o mais diplomático possível com a direção da CPI, mas não escondeu suas diferenças com a condução e o relatório final. Entre outras coisas, disse que qualquer mudança no relatório, depois da votação, "é falsidade ideológica".
Era uma referência à recente tentativa da direção da CPI de livrar a cara de três novos parlamentares, que haviam recebido a punição "intermediária". Mas o senador falou muito mais. Reclamou do "tempo absurdo" em que foi feita a investigação, sustentando a impressão de que alguém queria fechar e logo a CPI. Também atacou os acordos, de última hora, com "dois partidos".
Não foi específico. Disse apenas que acordos assim fazem parte da "cultura de negociação" vigente no Congresso, que deve ser combatida. "A negociação deveria cessar no nível dos princípios." No caso da CPI, é o que se entende, a negociação atropelou princípios. Mais importante, deixou muito corrupto de fora. "O relatório não ficou à altura. Eu seria bem mais rigoroso."
Não que esteja frustrado com a comissão. "Não tenho nenhuma frustração", garantiu, mas não sem registrar: "É claro que eu gostaria de ver no relatório o trabalho realizado com o material apreendido na casa (do funcionário da Odebrecht)." Um trabalho que está, de qualquer maneira, "anexado ao relatório" e vai ser usado na CPI das Empreiteiras, que está recebendo tudo pronto, "em matéria de provas".
"A CPI das Empreiteiras está praticamente feita e muito bem feita com as investigações do Paulo Lacerda no período Collor e com o trabalho que nós elaboramos nesta CPI." Para Bisol, o esquema Odebrecht é "mais relevante" do que o do Orçamento. Ele chegou a corrigir sua famosa declaração: "Não é um poder paralelo. É superior. O Estado brasileiro é instrumento nas mãos dele." Como exemplo, citou o relatório da CPI mista do FGTS, que "contém um texto que foi elaborado dentro da Odebrecht".
Animado por um processo de mudança que julga irreversível, José Paulo Bisol chegou a fazer seu próprio discurso no estilo eu-tenho-um-sonho. "Para os corruptores, é preciso fazer a CPI das Empreiteiras, do Cimento e do Sistema Financeiro. Aí o Brasil teria as condições para ser uma outra nação."

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